Artigo: O Sete de setembro e a cortina de fumaça

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Os números são claros e evidentes, o bolsonarismo cai vertiginosamente. O presidente da República vê-se complemente perdido, apenas com o apoio de alguns; prevendo sua queda diante das eleições de 2022 e consequentemente seu julgamento e prisão, por isso a necessidade dessa convocação para demonstrar que ele está “vivo” e é “imorrível”. Uma cortina de fumaça para nublar a visão de milhões de brasileiros diante do caos que vivemos.

Nosso país passa por uma crise poucas vezes vista. Os números inflacionários sobem a cada dia, a extrema pobreza atingiu 28 milhões de brasileiros, pois o auxílio emergencial já não é suficiente; o mercado financeiro eleva a projeção de inflação este ano para 7,11%, ou seja, a terceira maior da América Latina atrás apenas de Argentina e Haiti; nos supermercados, o poder de compra dos brasileiros só diminui diante do aumento constante dos preços dos alimentos, principalmente daqueles que compõem a cesta básica; salários defasados; o índice de desempregados nas alturas, 14,7%, ou seja, o maior segundo aferição histórica do IBGE e para se somar a este oceano de tragédias, as vítimas da pandemia – 580 mil mortos desde fevereiro do ano passado. Apesar desses números pandêmicos diminuírem, ainda temos uma média diária de 679 mortes. Estamos falando de vidas. Seres humanos mortos pela ineficácia e ausência de gerência neste País. O Brasil está na UTI, em todos os aspectos, e nosso presidente da República preocupado com sua reeleição, flertando com um Golpe de Estado.

Enganam-se e iludem-se os brasileiros, que namoram com as palavras bradadas pelo condutor do Poder Executivo, pois seus vocábulos mal articulados, dotados de falácias, imprecisões vocabulares e invencionices não brotaram devido a perseguição, que ele sugere, pelo Poder Judiciário. Bolsonaro, como é conhecido, foi deputado por 28 anos, com atitudes pífias diante da sua posição no Legislativo Brasileiro e discursos preconceituosos e agressivos; anos anteriores, como membro do Exército Brasileiro foi transferido para a reserva devido uma série de processos na Justiça Militar; durante a campanha eleitoral de 2018, o atual presidente da República demonstrou todo esse seu lado preconceituoso e seu carinho para com os regimes autoritários, portanto, a “capivara”, ops, currículo, de Jair Messias Bolsonaro demonstrava a quem escolheriam para a condução desta Nação. Era lógica e racional a predileção. Bolsonaro jamais pisou nos estúdios para um debate, abusou das fake news e fez das suas redes sociais o seu púlpito. Cresceu com o apoio de algumas alas religiosas ao confessar sua fé, esta que não condiz com seus atos e suas palavras, além da promessa de uma série de benesses – como a isenção de impostos aos templos religiosos.

Bolsonaro ascendeu ao Poder pelas eleições diretas, através das urnas eletrônicas e, hoje, quando presencia sua derrota iminente, tende a se debater, como peixe fisgado, para não deixar às águas calmas, prósperas e vastas, que só o cargo de Presidente da República oferece. Cartões corporativos ao limite, viagens desnecessárias pelo país, apenas visando sua reeleição, além dos cargos comissionados distribuídos aos amigos, amigos dos filhos, aos militares da reserva etc. E conforme avançam às investigações, seja através das CPIs, inquéritos da Polícia Federal e Tribunais de Justiça, cada vez mais emergem o envolvimento de seus filhos (senador, deputado federal e vereador) em atos ilícitos, portanto, não nos espantemos, o ataque é uma forma de defesa, uma tática de guerra, esta que o Messias tenta irromper.

Muitos dos que ainda seguem Jair Messias Bolsonaro vivem desses arrombos, contemplam a ditadura militar, esperam favores políticos, espalham inverdades e desejam a manutenção da pobreza e dos humilhados para assim continuar nenufando em suas águas paradas dotadas claramente dessa desigualdade social desejada. Não pensem que são incultos ou mesmo possuem algum problema cognitivo, pelo contrário, são sabedores do que acontece, todavia, as inverdades da divisão de bens ainda os assombra, pois nunca foram altruístas. Caridosos, sim, por uma questão de estar em colunas sociais ou mesmo a busca por uma vaga no Céu.

E nesse último dia Sete de setembro celebraram o quê? A inconstitucionalidade de pedidos esdrúxulos, de uma lista que envergonha qualquer brasileiro conhecedor da Constituição. O que desejam é a volta de um regime que desapareceu com milhares de brasileiros, torturou outra centena de milhares, assassinou àqueles que se posicionavam favoráveis à liberdade? É isso mesmo? Patriotismo é distinto de Nacionalismo. Cuidado! Caso tenha passado longe dos livros de História seria interessante a busca aos dicionários, talvez ali, nos livros, conseguiríamos por um pouco de luz nessas mentes escurecidas pelo ódio e horror ao diferente. Justo Veríssimo, personagem do humorista Chico Anísio, seria essencial nestes tempos.

Minha maior preocupação neste momento, é a inércia alimentando a tese de que tudo vai bem. Não vai! Essa cortina de fumaça não pode continuar, logo os demais Poderes da República terão a obrigação de aplicar à lei aos descumpridores da Constituição.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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