Artigo – A força do crédito verde no agronegócio

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*Por Guilherme Almeida e Alan Riddell

Além de liderar o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, o agronegócio também está sendo protagonista nas emissões “verdes”, que são dívidas no mercado de capitais com carimbo ESG (Environmental, Social andGovernance). As emissões verdes, além de gerarem impacto positivo nos negócios e serem bem recebidas pelo mercado, estimulam iniciativas que visam melhorias ambientais e sociais. O movimento ESG vem ganhando impulso por várias razões, e isso também ocorre no agronegócio, setor que gerou renda bruta de R$ 2 trilhões em 2020, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e a Confederação Nacional de Agricultura (CNA). O salto foi de 24% em relação ao ano anterior, elevando para 27% a participação setorial no PIB. Os destaques foram a agropecuária, com aumento médio de 57% em renda bruta, e o segmento de grãos tendo 73% de crescimento.

Nesse setor, dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e da SITAWI evidenciam que, no primeiro semestre de 2020, as empresas do agronegócio que acessaram o mercado de capitais através da emissão de dívidas no formato de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) temáticos respondiam por apenas 4% dos CRAs emitidos. Já no primeiro semestre de 2021, atingiram 24% do total, um salto de 500%. As debêntures temáticas eram 2% no 1S20, saltando para 10% no 1S21. Significa que há no mercado de capitais um boom de emissões temáticas, com uma forte onda verde no agronegócio, sendo o ESG incorporado com força nas captações de recursos via CRAs “Verdes”.

O movimento está alinhado com tendências globais. A emissão de títulos verdes, sociais e de sustentabilidade atingiu US$ 700 bilhões em 2020. Mesmo os títulos verdes sendo preferidos (US$ 290 bilhões), os títulos sociais explodiram em 2020, alcançando US$ 249 bilhões (alta de 1.022%), seguidos dos títulos de sustentabilidade (US$ 159,8 bilhões), que cresceram 131% comparando com 2019, segundo o Climate BondsInitiative (CBI). Outro dado é que a emissão de títulos com metas ambientais, sociais e de governança, em todo o mundo, deve chegar a US$ 1 trilhão este ano.

No Brasil, os créditos para empreendimentos verdes também estão aquecidos. Dos R$ 1,73 trilhão do saldo da carteira de crédito para empresas, em dezembro de 2020, R$ 376 bilhões foram para atividades de economia verde, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ou seja, mais de 20% desses empréstimos para empresas relacionadas à economia verde.

A agenda de sustentabilidade também deverá pautar a concessão de crédito rural e privado no Brasil. Neste contexto, vale destacar a iniciativa do Banco Central de criação de uma nova regulamentação para definir critérios de ESG nas operações de crédito rural e privado voltadas para o agronegócio, com destaque para a criação do Bureau Verde. De acordo com a nova regulamentação do Banco Central, os empreendimentos que não atenderem a critérios específicos de ESG não poderão ser financiados com crédito rural. Já os empreendimentos passíveis a financiamento com crédito rural serão objeto de classificação de risco socioambiental, podendo receber classificação de operação sustentável.

O aumento expressivo na emissão de títulos ambientais e sociais prova que há um mercado engajado em novos modelos de operações e negócios. Além disso, o mercado verde é a nova base para a retomada econômica, com a incorporação de novos elementos por parte de investidores, organizações e sociedade civil. O foco deve estar cada vez mais no aumento contínuo do crédito verde para direcionar fluxos de capitais para atividades com maior contribuição socioambiental. Somente assim será possível executar estratégias que mitiguem melhor os atuais riscos e gerem novos negócios.

 

*Guilherme Almeida é sócio-diretor da área de Consultoria em Captação de Recursos da KPMG no Brasil. Alan Riddell é sócio líder de área de Consultoria em Captação de Recursos da KPMG no Brasil.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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