Artigo: A teologia da conveniência e a destruição do paraíso

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Por: Walber Gonçalves de Souza*

A religiosidade é uma das marcas de qualquer povo. Desde sempre o ser humano convive com crenças em “seres superiores”. Ao longo da história observamos a formação de diversos grupos, que partilham da mesma forma de crer. Alguns destes grupos são minoritários, pouco conhecidos, outros estão praticamente presentes ou são reconhecidos no mundo todo; destaco os muçulmanos, islâmicos e cristãos.

Desde a antiguidade verificamos esta relação humano e divino. Entre os povos gregos destaque-se a mitologia que é toda envolta com esta relação; os egípcios e suas crenças nos deuses animais; os povos do oriente médio e a formação da religião judaica, contada através do antigo testamento; e o próprio cristianismo que se desenvolveu dentro dos domínios do Império Romano. Algum tempo depois, Maomé dá origem ao islamismo e Lutero à primeira e radical divisão dos cristãos ao formar, à época, o protestantismo, as denominadas igrejas evangélicas. E todas elas de uma forma ou outra vêm reinventando-se até os dias atuais. O número de templos aumenta, os rituais diversificam-se, os líderes multiplicam-se…

Fazendo uma comparação entre todas elas percebemos que existem algumas importantes semelhanças. E a principal delas sem sombra de dúvidas é que devemos amar Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Um mandamento maravilhoso com um desdobramento humano fantástico. No papel parece ser algo fácil de realizar, mas pelo que está acontecendo de fato, parece que não aprendemos bem esta lição.

Nietzsche, um dos mais famosos filósofos da humanidade chegou a afirmar que o ser humano matou Deus. Por conveniência humana acabou sendo mal interpretado e bastante criticado. Agora, cada coisa que é feita em nome de Deus por todas as religiões, que às vezes me pego pensando… será que Deus quer que façamos isto mesmo em nome Dele? Matamos em nome Dele; excluímos em nome Dele; discriminamos em nome Dele. São tantos exemplos que vivenciamos dia-a-dia que daria para escrever uma enciclopédia infinita de exemplos. Como sou um nada, quem sou eu para chegar a alguma resposta. Pode ser que eu esteja enganado.

Dito tudo isto, voltemos para aquilo que atualmente deveria ser uma das nossas grandes preocupações: as questões ambientais.

Ao longo de muitos anos, preferimos continuar “comendo a maça”, isto é, estragar o paraíso. Não cuidamos das nossas matas, preferimos o desmatamento; não cuidamos das nossas nascentes e rios; acreditamos que o fogo é o melhor método para se “limpar” uma área; poluímos o ar; sujamos o ambiente, com todo tipo de lixo e entulho; enfim, preferimos continuar com o hábito de poluir, de detonar o paraíso.

E além de tudo, quando acontece alguma coisa, colocamos a culpa em Deus. Como se a responsabilidade pelas nossas atitudes fosse Dele. Pois assim fica tudo sempre mais cômodo. E logo em seguida em forma de desespero, como seres perdidos, começamos a rezar, orar… pedindo um milagre. Não duvido de milagres, mas até quando viveremos pedindo milagres?!

Tornou mais fácil para o ser humano transferir para Deus as responsabilidades que são nossas. Imagine um pai/mãe que doa tudo para os seus filhos e ainda em vida vê seus filhos perdendo tudo de uma forma irresponsável e desregrada. Acredito que nenhum pai/mãe quer vivenciar uma coisa dessas, pois com certeza gera angústia, sofrimento. Mas é justamente isto que estamos fazendo, a humanidade ganhou tudo, está estragando tudo e ainda quer por a culpa em quem tudo fez. Pregando para todos os cantos um Deus vingativo, rancoroso, um Pai que vive punindo seus filhos. O Deus que ama, que acolhe, que gera mudanças de atitude ficou esquecido. É inacreditável o que estamos fazendo!

Nossas crenças devem fortalecer as mudanças de atitudes. “A fé sem obras é morta!”. Sabemos o que devemos fazer para mudarmos este quadro desolador: cuidar do nosso habitat, da nossa grande casa chamada Terra. Reclamar, ficar de braços cruzadas e continuar transferindo a responsabilidade não vai resolver nada. Chegou a hora da atitude, da ação. Nossa crença não pode ser mesquinha ao ponto de nos afastar das nossas responsabilidades enquanto pessoa, enquanto filhos de Deus.

*Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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