Artigo: A força dos elos de uma corrente

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Por: Rodrigo Segantini*

Franklin Roosevelt foi presidente dos EUA por 12 anos seguidos. Por causa dele, fizeram constar na constituição dos EUA que um presidente só pode ser reeleito uma vez. Graças a sua política econômica, os EUA superaram a crise causada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 e foi ele quem liderou o país nos esforços militares da II Guerra Mundial. É considerado por especialistas e estudiosos como um dos três grandes presidentes da história americana, junto com Lincoln e Washington.

Mas há algo que pouca gente sabe: Roosevelt sofria de poliomielite. Em uma manhã de agosto de 1921, quando Roosevelt tinha 39 anos e nem pensava que um dia se tornaria presidente da república, ele sentiu dores nas pernas, mas não se importou. Naquela noite, teve febre e a dor havia se espalhado pelas costas. Dois dias depois, havia perdido toda a sensibilidade da cintura para baixo. Depois de assumir a presidência dos EUA, em 1933, Roosevelt incentivou pesquisas para encontrar a cura para a paralisia infantil. Na década de 50, uma pesquisa apontou que o segundo maior temor do povo norte-americano na época era a pólio, perdendo apenas para o medo de um ataque por bomba atômica.

Em 1955, Jonas Salk desenvolveu uma vacina aplicada por injeção e usando vírus inativos. Em 1961, Albert Sabin desenvolveu uma vacina administrada por gotas via oral, utilizando vírus atenuados. A vacina Salk é mais eficiente, mas é mais cara e mais difícil de ser administrada; já a Sabin, embora tenha uma eficiência 20% menor do que a Salk, é quase cem vezes mais barata e é mais fácil de ser transportada e administrada. Juntas, quase eliminaram a pólio no mundo, chegando a cobrir mais de 99,9% da população mundial – no ano passado, no mundo todo houve apenas 77 casos da doença, registrados todos entre o Afeganistão e o Paquistão.

A vacinação está por trás da erradicação da pólio no Brasil. Por aqui, o último caso de poliomielite ocorreu em 1989, em Sousa, na Paraíba. Mesmo assim, ainda hoje, promovemos campanhas de vacinação contra essa doença com foco nas crianças. Mas, como há tempos não são registrados casos em nosso país, os pais deixaram de levar seus filhos para serem vacinados e a cobertura caiu quase 30% – de cada dez crianças que deveriam ser vacinadas, quatro deixaram de receber a vacina. Isso significa que, se o vírus se espalhar, o Brasil pode ter a volta de uma das mais graves doenças que a humanidade já enfrentou, apesar de estarmos tão perto de definitivamente eliminá-la da face da Terra.

Com a covid, é a mesma coisa. Enquanto não houver cobertura vacinal de pelo menos 80% da população brasileira, a doença será uma ameaça para nossa gente e estará circulando entre nós. Enquanto menos de 80% da população mundial não estiver imunizada, o coronavírus poderá sofrer alguma mutação e uma nova variante sua acabar com todo o esforço que tem sido feito para acabar com ele. Por isso que se vacinar não é uma decisão individual, mas deve ser considerado uma necessidade coletiva. Uma corrente é tão forte quanto o mais fraco de seus elos. Se um de nós não se vacina, é como se nenhum de nós tivesse se vacinado.

Se nos tempos de Roosevelt, a pólio condenava suas vítimas à cadeira de rodas, hoje em dia a covid condena aqueles a que ataca a males muito mais diversos. 90 anos depois, nossa luta contra a pólio está quase no fim. Espero que não seja preciso quase um século para que o coronavírus seja exterminado.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

 

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