Artigo: Dos folhetins às séries

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Assisti a série da Netflix, “A costureira de Castamar”, e não gostei do final. Muito óbvio. Há muito não me iludia com uma narração e me decepcionava com a sua conclusão. Confesso ter optado pelas séries nestes últimos anos, embora há alguns anos, quando cheguei em Porto Alegre, em meados da primeira década deste século, não perdia um capítulo de “Law & Order”.

As séries são hoje o que os folhetins representaram para os brasileiros no século XIX, aguardem a próxima temporada; assim, também, como aguardem o seguinte capítulo, elemento importantíssimo, ainda hoje, diante das telenovelas brasileiras. Está certo que se foi o tempo em que o brasileiro paralisava diante da TV para o tão aguardado capítulo da popular novela das oito, que começava às 8h30, depois às 9h, agora às 9h30 da noite. Momento marcante para os brasileiros, que faziam com que padres antecipassem o horário das suas missas. “Beto Rockfeller”, “Roque Santeiro”, “Selva de Pedra”, “A Próxima Vítima”, “Laços de Família” e mais recentemente “Avenida Brasil”. Confesso ter um carinho todo especial pela “O velho Chico”, porém essa minha lista se apequena todas as vezes que observo às telenovelas do momento. Talvez algumas de época me enfeiticem mais, todavia não vejo grandes produções. Digo às de época, pois sempre nutri um carinho maior pelas obras que retratavam a nossa história (“Confesso estar apreensivo para o início de “Nos tempos do imperador”).

Fui um fã da “Escrava Isaura”, escrita originalmente por Bernardo Guimarães (autor romântico e adepto do folhetim). Primeiro assisti à novela das dezoito horas com a Lucélia Santos no papel principal e Rubens de Falco sob a direção de Herval Rossano, adaptada pelo Gilberto Braga (por onde andam estes ótimos teledramaturgos), e só depois li à Obra. Jamais me esquecerei de “Pantanal”, escrita por Benedito Rui Barbosa, e televisionada pela extinta TV Manchete derrubando a audiência da Rede Globo. Como vibrei. Realmente um folhetim. Costumo salientar que a telenovela “Pantanal” está para a teledramaturgia brasileira assim como foi “A moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo em 1844 representou o início glorioso de um gênero literário que transformou e inspirou nossa população à leitura. Depois desta obra romântica (que também foi adaptada para a TV), o caminho estava aberto: “Senhora”, “Diva”, “Lucíola” de José de Alencar; e depois a inovação narrativa, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, composição do Bruxo do Cosme Velho – Senhor Machado de Assis. Um ícone. Não há como ler o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, nosso maior escritor, e não identificar os seus traços em telenovelas do gênio Manoel Carlos; assim como Guimarães Rosa em benedito Rui Barbosa; Jorge Amado foi um engajado escritor e suas obras brilharam além dos livros, tornou-se o mais adaptado para a cinematografia e, também, para a teledramaturgia; dessa forma, também, fez-se Dias Gomes com os seus: “O pagador de promessas” e “O bem-amado”. Fica difícil olharmos para “Tieta do agreste”, “Gabriela cravo e canela”, “Teresa Batista cansada de guerra”, “Jubiabá”, “Dona Flor e seus dois maridos” e não identificarmos essas diante das telas de nossas tevês.

Embora a leitura não aconteça da maneira a qual desejamos, as séries ocupam o lugar que já pertenceu aos folhetins e as telenovelas, e vem fazendo história. Ainda assim, uma forma de reflexão. Assistam à “A cozinheira de Castamar” e vejam se o final é mesmo como apreciei. Ótima leitura!

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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