Artigo: A cadeia de abastecimento no Brasil

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Por: Fernando Gambôa*

A agricultura brasileira produz alimentos para mais de 200 milhões de pessoas, o que torna só aumenta o desafio de garantir produção sustentável e acesso ao alimento no país todo. Além disso, o Brasil é o maior exportador líquido de alimentos. Nesse momento desafiador, é preciso refletirmos sobre a alimentação não somente no nosso país, mas também no contexto regional e mundial.

Uma forma de reduzir o custo de mão de obra e abrir novos postos de trabalho, que é um pedido antigo e recorrente do setor, fazendo as empresas ganharem mais competitividade, está em desonerar a folha de pagamentos, ideia do Ministério da Economia abordada no 1º Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, conduzido pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAs).

Outra ideia está em formatar novos programas sociais para que não se percam 40 anos de avanços positivos no combate à fome. Um ponto complementar, destacado no mesmo evento pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está em saber a origem dos alimentos, ponto cada vez mais latente para os consumidores, que querem uma maior transparência nas cadeias de suprimentos.

Para que estas questões sejam resolvidas, no evento também foram destacados alguns desafios da cadeia nacional de abastecimento: rastreabilidade; sanidade vegetal e animal; e principalmente, o desperdício que temos nas cadeias atuais. Outro ponto é a possibilidade de adotar um modelo que permita vendas de baixo custo e doações de produtos próximos a data de vencimento, mas ressalto que este tema é polêmico e deve ser analisado a luz de muito debate e feito com muito cuidado, pois esta solução não pode colocar a saúde dos consumidores em risco.

A cadeia nacional de distribuição já representa 5% do Produto Interno Bruto (PIB), representando 28 milhões de consumidores, podendo chegar a 5,5 milhões de empregos indiretos. Essa discussão não é exatamente nova, mas continua relevante. Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a Agenda 2030, que compreende os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que devem ser trabalhados.

Outro aspecto importante sobre a cadeia nacional de abastecimento é que há dificuldades em mensurar e estabelecer metas e padrões das empresas implementarem o ESG. Ter elementos de comparação sempre ajuda a implementar metas e estabelecer comparações com outros mercados. Os dados são fontes essenciais e inesgotáveis para garantir a evolução do tema. Além disso, incluir meta atrelada a remuneração dos executivos e participação da sociedade civil na criação das metas é essencial.

Como empresas e sociedade civil querem mais qualidade de vida e retorno financeiro, se atuarem de forma integrada, é possível chegar mais longe, influenciar pessoas e políticas públicas. Nesse sentido, há alguns pontos de oportunidades e de atenção: transparência nas informações; diálogo; consistência; comparabilidade; rastreabilidade; comunicação; apoio aos pequenos produtores; engajamento da alta liderança; integração de todas as classes sociais; e logística reversa.

Somente integrando todo o ambiente de negócios das empresas e setores econômicos será possível superar os desafios de qualidade e segurança alimentar, redução de custos, economia circular, logística reversa e, principalmente, o desperdício de alimentos. Já não é mais suficiente olhar para ações internas. É imprescindível ampliarmos o escopo socioambiental para consumidores, fornecedores, distribuidores e entidades ligadas direta ou indiretamente com a cadeia nacional de abastecimento.

*Fernando Gambôa é sócio-líder de Consumo e Varejo da KPMG no Brasil e na América do Sul.

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