Impacto da inovação na auditoria pós covid-19

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Por: Márcio Santos e Alessandro Sato*

Recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que normatiza o mercado de valores mobiliários no Brasil, alterou o prazo de entrega das informações periódicas das companhias abertas, como demonstrações financeiras, formulários trimestrais, formulário cadastral, formulário de referência e o informe sobre o Código Brasileiro de Governança Corporativa. A iniciativa foi tomada após o início do isolamento provocado pela pandemia da covid-19 e também para que as empresas que produzem esses documentos pudessem se adaptar à nova realidade. Esse cenário produzido pelo isolamento social alterou a rotina de funcionamento de vários setores da indústria brasileira, assim como o trabalho de auditoria contábil.

Sabemos que o impacto da inovação disruptiva no papel do auditor já vinha acontecendo de forma gradual nos últimos anos, mas a pandemia acelerou processos que ainda estavam em andamento e fez colocar em prática, rapidamente, as mudanças geradas pela transformação para um mundo digital. Diante do contexto inédito de pandemia, muitas empresas de auditoria se viram de frente para uma série de desafios de inovação. Com isso, tiveram que rever, em tempo recorde, diversos protocolos e procedimentos de trabalho vinculados ao uso da tecnologia sem deixar de lado medidas de prevenção, controle e informação. Todas essas mudanças estão ocorrendo em um mundo em que a velocidade e a inovação esbarram em um segmento altamente regulado e complexo, inerente à profissão do auditor.

Com o auxílio da tecnologia, vários processos do trabalho de auditoria precisaram ser revistos. Uma das medidas tomadas pelas empresas que atuam no setor foi a permissão de acesso remoto para compartilhamento de papéis de trabalho no momento de pandemia. Além disso, fez parte das mudanças o uso de plataformas para compartilhamento via internet de informações de forma segura. O segundo passo diz respeito à substituição do trabalho rotineiro, demandando uma grande quantidade de pessoas em campo, pela automação de procedimentos de auditoria, que estão auxiliando desde um simples recálculos e projeções até análises mais complexas, garantindo ao auditor foco principal em mitigação de riscos e julgamentos relevantes.

A inteligência artificial também começou a ganhar ainda mais destaque na auditoria nesse período com o uso de análise de dados relevantes, de forma eletrônica, sem a necessidade da presença física do material, tais como leitura e interpretação de contratos, atas de reuniões, certidões negativas de débito (CNDs), entre outros. Esse tipo de ferramenta pode permitir a obtenção e análise de um grande volume de dados de forma rápida, ampliando a abrangência dos testes de auditoria comparado à maneira tradicional que era feita no passado, por amostragem. Já no acompanhamento de inventários pelas equipes de auditoria nas empresas, há novas tecnologias sendo avaliadas, como o uso de drones, otimizando o processo sobretudo nesta época de isolamento.

Ainda sob o impacto da tecnologia no trabalho de auditoria, pode ser feita também a substituição do uso dos Correios e papéis físicos por um processo de circularização digital que permita as confirmações externas de saldos contábeis. Além disso, assinatura digital é uma forma implementada para gerenciamento e assinatura de documentos com validade jurídica, eliminando a presença física nesse momento em que o contato entre as pessoas de forma não segura não é recomendado.

Os desafios impostos pelo isolamento às empresas anteciparam mudanças tecnológicas, aceleraram processos inovadores e geraram soluções adequadas. Entretanto, em meio às tecnologias emergentes, a maneira tradicional de entrega dos serviços está caindo em desuso e novas experiências são demandas pelo mercado viabilizadas por meio de modelos de negócios inovadores. Essa é a lição pós covid-19 para os auditores.

* Márcio Santos e Alessandro Sato são sócios de auditoria e inovação da KPMG.

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