Artigo: A Torre de Babel pós-moderna e o fim denotativo

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Por:Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Uma das propostas de um livro didático, de uma das escolas que trabalho, é a difusão da comunicação, suas representatividades, seu poder de alcance, seus elementos estruturantes etc. Começa o capítulo com uma crônica de Luís Fernando Veríssimo, intitulada “Comunicação”. O diálogo entre um vendedor e um comprador, que por ausência de substantivo prolonga a compra e deixa o vendedor confuso ao descrever o produto a ser adquirido.

Um dos requisitos essenciais quando falamos sobre comunicação é o poder de clareza entre os interlocutores, principalmente por parte do locutor, o locutário possui sim as suas responsabilidades, todavia a objetividade se acentua ao emissor da mensagem. E essa é uma responsabilidade enorme, que possuímos, principalmente àqueles que costumam difundir suas mensagens e esperam ser compreendidos. O professor possui um importante papel diante da transmissão de conhecimento, e mesmo diante dos diálogos mantidos com seus discentes. Já observei muitos alunos distorcendo vocábulos docentes diante de pais embebidos pelo amor pueril. A culpa sempre recai ao docente. E hoje, com o advento das redes sociais e os recursos absorvidos pela tecnologia, principalmente através da troca de mensagens, filhos ludibriam pais num passe de mágica. Frequentam grupos nunca imaginados pelo patriarcado (“Meu filho jamais faria isso…”). Mal sabem os mestres familiares, que seus rebentos encontram-se frequentando lugares indesejados e são capazes de forjarem provas apenas para incriminarem seus professores e ficarem “de boas” (como tratam o assunto de maneira informal). E observem: a nota baixa retirada pelo filho é sempre uma atribuição referendada ao docente, talvez pela sua ineficácia e falta de trabalho. É assim que nos enxergam. A culpa nunca é do filho que não estuda mais. Passa horas diante de uma tela de celular. Vejo muito isso principalmente hoje, cujas avaliações são realizadas remotamente. É claro que o discente não se sairá mal durante essas avaliações. Ele realiza-as através do copiar e colar. “O Google é o meu pastor, e nada me faltará”. Vejam que dessa forma a nota passa a ter mais valor que o saber adquirido. O que esses pais almejam ver são os boletins recheados de dez mentirosos, pois o que vale é fugir à reprovação. Reparem que ficamos parados quase trinta anos diante desse sistema educacional falido. Seja na Escola Pública ou Privada. Cobrar a memorização dos alunos ainda proporciona status, abre caminhos ao vestibular, e as escolas privadas ganham mais adeptos. É o lucro visado, o cliente conquistado.

Porém, o que falava por aqui era sobre a ausência de comunicação, os telefonemas sem fio, que as redes sociais acabam proporcionando. Uma torre babélica modernizada. Um juntar de cidadãos, que muitas vezes, acirram-se diante da oficina de Lucífer, e emitem mensagens aos borbotões por essas redes sociais nunca imaginadas pela fofoqueira da “Praça é Nossa”.Articulações maldosas. Dotadas do mais puro veneno de Caim, alimentadas pela casmurrice de Bento Santiago e a violência do Exército diante do sertanejo de Canudos. As palavras, nessas redes sociais foram reduzidas (ao pó retornaram), a linguagem não verbal prevalece, porque as imagens são o que há de mais bonito e emotivo diante desses interlocutores. Estamos retornando às pinturas rupestres. Estas sem ausência de tecnologia, proporcionando ao Homem o desejo de estabelecer o diálogo, deixar algo aos seus sucessores, distinto do que acontece hoje – somos alvos fáceis do retrocesso, da retropia, de um projeto, que objetiva evitar o pensar. Esse desmantelar é arquitetado, começou com essa gestão presidencial e encontrou lacunas diante da insatisfação com governos passados e a ira contida em mais da metade da população brasileira. Há muita maldade oculta diante do cidadão de bem; há muita oração difundida com armas em punho; há muita comida doada embebida com cicuta; há muitos responsáveis preparados para acusar o docente pela má gestão educacional. Olhamos para um terreno infértil, momentaneamente, pois os seus agricultores semeiam a maldade. Estamos sendo governados pelo Caos. E nosso povo parece concordar com esta gestão incomunicável.

Enquanto o diálogo não for reestabelecido, a humanidade superar a caridade, e os seres humanos serem observados como semelhantes,  pertencentes a uma mesma espécie, essa Torre de Babel Pós-Moderna triunfará. A raça humana desaparecerá. Ficção. Não! O fim será denotativo.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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