Artigo: Caça às bruxas

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Por: Rodrigo Segantini*

No Senado, está em curso uma CPI para apuração dos atos do Governo Federal no enfrentamento da pandemia. Desde Luiz Henrique Mandetta até Eduardo Pazuello, desde cloroquina até a falta de oxigênio, de lockdown até compra de vacinas, tudo será investigado. Embora devesse ser do interesse de todos colocar tudo em pratos limpos – para os que acham que está tudo bem, não devem ter nada a temer; para os que acham que está tudo mal, esta é a oportunidade de provar o que alegam.

De fato, predominantemente esses dois grupos têm dominado o cenário onde a comissão se desenrola: aqueles que defendem que está tudo bem e apoiam o governo e aqueles que acham que não está tudo bem e que são tidos como opositores do governo. Portanto, diante deste antagonismo, o que temos assistido é um conflito constante. Sobre qualquer assunto, o que uma turma diz, a outra contradiz; o que uma turma defende, a outra ataca.

Mais do que defender o interesse público ou de resolver o problema que hoje enfrentamos, a razão de existir desta CPI parece ser mostrar que os adversários estão errados. Pouco importa o que Bolsonaro fez ou deixou de fazer; pouco importa se, em vez de investir na produção, compra e distribuição de vacinas, o Governo Federal investiu na produção, distribuição e fornecimento de medicamentos sem eficácia contra covid-19. A verdade, para todos, é o de menos. O que importa é desmoralizar os adversários.

Porém, nós, meros mortais, estamos sob o jugo severo da realidade. Enquanto a CPI faz reuniões televisionadas como embates públicos de retórica duvidosa, enquanto o Governo corre para esconder os erros que cometeu, quem está sem vacina disponível somos nós, quem tem sido compelido a ficar em casa somos nós, quem não está podendo trabalhar somos nós. Pouco nos importa, neste momento, quem fez o quê. O que nos importa é saber quando seremos vacinados.

Então, se os senadores querem apurar algo de bom, querem dar alguma eficiência aos seus trabalhos, deveriam se empenhar em buscar pelas vacinas, em conseguir que a produção de vacinas no Brasil alcance nossas necessidades e que todos nós sejamos vacinados. Só assim mortes serão evitadas, internações serão evitadas e tanta dor e sofrimento serão evitados.

Precisamos mesmo fazer uma caça às bruxas. Mas as bruxas estão voando montadas em coronavírus e devemos derrubá-las destes monstros. Essa é a prioridade. Disputas políticas comezinhas podem ser resolvidas em outra arena – ou nas urnas, oportunamente. Isso não quer dizer que estou eximindo o Governo Federal de qualquer responsabilidade ou que acho que Jair Bolsonaro é um bom presidente ou mesmo um bom sujeito. Também não quer dizer que acho que João Dória merece todos os louros da glória por ter dado um jeito de trazer a vacina para nossa gente, nem que o Brasil precisa que Lula volte à presidência.

Tudo isso quer dizer que eu quero ser vacinado logo e quero que vocês todos sejam vacinados logo para que todos nós possamos voltar à vida como era antes. Para mim, no momento, é isso que importa. Só isso que importa.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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