Câncer metastático: entenda o caso do Prefeito de São Paulo Bruno Covas

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Agravamento do estado de saúde do governante de uma das principais capitais do país levanta dúvidas comuns sobre o diagnóstico e tratamento de tumores.

Nos últimos dias, a equipe médica responsável pelo acompanhamento do prefeito Bruno Covas (PSDB), anunciou que novos sinais de agravamento de seu estado de saúde indicavam a necessidade dele passar por novas sessões de quimioterapia e imunoterapia – medicação que tem como principal função ativar o próprio sistema imune do paciente para que reconheça as células malignas e combata assim diretamente o inimigo – para tratar do câncer diagnosticado em 2019, localizado na transição entre o estômago e o esôfago, e que, à época, apresentava sinais de presença no fígado. O motivo, segundo informações divulgadas à imprensa, foi a descoberta de novos sinais de presença do tumor no corpo do político: além dos nódulos hepáticos, a doença estaria apresentando presença nos ossos.

Um dos pontos que faz-se necessário esclarecer é que os tumores agora detectados não significam que o prefeito tenha desenvolvido outros tipos de câncer, pelo contrário: eles têm relação direta com o diagnóstico feito há cerca de 18 meses. “Em muitos casos de pacientes com tumores malignos, mesmo com o tratamento, é possível que células cancerígenas se soltem do órgão original onde a doença está localizada e tentem ‘viajar’ para outra parte do corpo. Em geral, esse trajeto não dá certo e essas células são eliminadas pelo organismo, mas quando elas conseguem alcançar uma nova área e se estabilizar, acabam gerando uma multiplicação da doença e o aparecimento do câncer em outra parte do corpo. É o que denominamos metástase”, diz Renata D’Alpino é oncologista e coordenadora do grupo de tumores gastrointestinais e neuroendócrinos da Oncoclínicas.

As metástases indicam a necessidade de ajustes nas condutas terapêuticas adotadas, de acordo com as etapas evolutivas da linha de cuidado oncológica. Essas mudanças são necessárias para que o tratamento possa surtir o efeito desejado e frear o avanço do câncer. Vale, contudo, lembrar que , embora afete outros órgãos, em casos como o de Bruno Covas, os novos tumores malignos têm as mesmas características da doença inicial e, por isso, não podem ser classificados ou tratados como sendo um câncer diferente.

Bruno Covas – Prefeito de São Paulo – Foto: Nelson Almeida/AFP

“De forma simplificada, quando o câncer de localizado em uma parte do corpo causa metástases em outro órgão, as células que formam o novo tumor mantêm as suas características de origem, como se fossem uma espécie de clones. Por isso, o recomendável é seguir o protocolo de tratamento convencional indicado para o tipo de tumor primário, podendo nesta situação ser recomendada quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia”, destaca a médica.

A metástase geralmente é diagnosticada por meio dos exames contínuos de acompanhamento do paciente, essenciais para que sejam tomadas medidas rápidas para dar sequência ao controle da doença. Esses testes também ajudam na escolha das abordagens a serem adotadas, que levam em conta a origem da doença, o tamanho e a extensão do tumor. “Vale sempre lembrar que o Câncer, mesmo quando tendo avançado para outras partes do corpo, pode apresentar boas respostas às terapias empregadas, assegurando qualidade de vida ao paciente mesmo quando a cura não seja possível – ainda que momentaneamente, já que ciência e a medicina evoluem a passos largos para a geração de tratamentos cada vez mais avançados visando transformar o câncer futuramente em uma doença crônica, que com os cuidados certos pode ser totalmente controlado”, explica Renata D’Alpino.

Até que esse momento tão desejado seja alcançado, todavia, sempre é preciso reforçar que as palavras-chave quando o assunto são as neoplasias malignas são prevenção e detecção precoce. Neste sentido, é possível reduzir os riscos de surgimento de inúmeros tipos de tumores a partir de hábitos alimentares saudáveis, prática de atividades físicas regulares e controle do peso. No caso dos tumores gastrointestinais, a obesidade, somada à ingestão em excesso de alimentos ultraprocessados – como salgadinhos, biscoitos, enlatados, pratos congelados, macarrão instantâneo, achocolatados, refrigerantes e bebidas com sabor artificial de frutas -, figuram entre os principais fatores que podem desencadear a doença.

Além disso, nestes quase 12 meses de pandemia no Brasil vimos despencar os números de exames de rastreio periódicos e idas para consultas de rotina para controle da saúde em geral. “O diagnóstico do câncer em estágio inicial permite possibilidades de cura em mais de 95% dos casos, percentual que cai vertiginosamente quando a descoberta acontece já em fases mais avançadas, ficando em 25%”, alerta Renata D’Alpino.

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