Artigo: Desafios e oportunidades para o setor de educação este ano

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Por: Marcos Boscolo*

Há pouco mais de 13 anos, o setor de educação passou a ser visto não apenas como um dos principais segmentos da economia brasileira, em função do aspecto social, mas também como uma das áreas mais promissoras para fazer negócio. Esse movimento teve início, em 2007, quando ocorreram os três primeiros processos de abertura de capital (IPO, sigla em inglês para Oferta Pública Inicial) no setor, seguidos por uma segunda fase, que aconteceu em 2013. Com o caixa fortalecido por meio de captações de recursos com a venda de ações, acompanhado por planos de expansão assumidos pelos acionistas, essas instituições iniciaram um intenso processo de crescimento inorgânico.

Em 2008, ano seguinte à realização dos primeiros IPOs, ocorreram 53 aquisições, fazendo com que o setor de educação fosse o quarto maior em volume de transações naquele ano. Desde então, houve uma redução na quantidade de negócios fechados, porém o segmento ainda continuou bastante aquecido e vem se mantendo como uma das dez principais áreas que mais realizaram fusões e aquisições. Já se considerarmos as transações ocorridas deste período até ano passado, foram concretizadas 345 operações, o que coloca o setor de educação em 9º lugar em volume de transações, ficando à frente de varejo, telecomunicações, mídia e seguros.

Apesar da crise causada pela covid-19, o movimento de fusões e aquisições em educação, no ano passado, teve um resultado bastante positivo, fechando o período com 27 transações. Muitas instituições educacionais movimentaram-se em busca de consolidação em regiões estratégicas no país, se posicionaram em nichos específicos de mercado como sistemas de ensino ou se expandiram em áreas em que já atuavam, aumentando sua parcela de mercado. Outra ação estratégica foi a busca por empresas que ofereciam plataformas de ensino e que atendiam às necessidades emergenciais para prover educação de qualidade no formato online.

O setor de educação é ainda muito fragmentado e com grande potencial de transações. Somente o ensino básico privado possui mais de 40 mil escolas. Ainda existe um volume expressivo de instituições que operam em outras modalidades de educação como escolas de idiomas, ensinos técnicos e profissionalizantes, cursos extracurriculares, preparatórios, além de mais de 500 startups.

Se compararmos o setor de educação a outros, é possível perceber que ainda não ocorreram grandes mudanças e avanços tecnológicos que pudessem ser considerados um movimento disruptivo e na forma como as instituições se relacionam com alunos e professores, levam conhecimento, monitoram e avaliam o conteúdo, entre outros aspectos.

Apesar das diversas possibilidades de crescimento e consolidação em educação, o setor ainda tem muitos desafios neste ano. Algumas instituições de ensino tiveram os negócios fortemente impactados no ano passado pela queda no volume de receitas associada ao aumento da inadimplência e evasão de estudantes. Além disso, como forma de manter e captar novos alunos, tiveram que oferecer programas de financiamento, bolsas e descontos. Com isso, iniciaram este ano com os caixas pressionados e menor capacidade de fazer investimentos.

Temos ainda, além do desafio da implantação de avanços tecnológicos, um abismo a ser ultrapassado que refere-se à falta de formação de jovens e adultos. O país possui cerca de 50 milhões de pessoas entre 14 e 29 anos que não completaram sequer o ensino médio.

Com isso, conclui-se que existem gigantescas oportunidades no setor de educação, tanto em termos de transformação digital como em consolidação de instituições, agregando outras modalidades de ensino às tradicionais mais conhecidas. Há também um grande desafio social associado à inclusão de uma parcela da população que deixou de estudar e enfrenta dificuldades na busca por um emprego e por renda em função da baixa qualificação educacional.

*Marcos Boscolo é sócio do setor de educação da KPMG.

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