Artigo: Dança das Cadeiras

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Por: Rodrigo Segantini*

Todos conhecemos uma brincadeira infantil chamada Dança das Cadeiras. É bem simples: assentos são dispostos em um círculo em torno do qual os participantes devem circundar ao som de uma música; o número de cadeiras é uma a menos da quantidade de pessoas brincando; assim que o som é interrompido, os jogadores devem se sentar e o que ficar em pé está eliminado. A brincadeira segue até que reste apenas uma dupla na disputa de uma cadeira, de forma que, ao final desta fase, será vencedor o que conseguir se sentar.

O presidente Jair Bolsonaro resolveu transformar seu governo em uma dança das cadeiras. Além de ele próprio e a turma ideológica, baseado em uma pauta esquisita e ultrapassada, Bolsonaro chamou para dançar o Centrão (grupo político multipartidário e de reputação duvidosa) e o coronavírus. Colocou também as Forças Armadas, que antes parecia dar o tom da música, para correr em torno das cadeiras. É um movimento arriscado porque o presidente posa prêmio seu próprio assento e todo a sua gestão.

Se Bolsonaro não for atento, pode perder sua cadeira para o coronavírus, para as Forças Armadas, para o Centrão ou para seus apoiadores ideológicos. E uma coisa que tem ficado muito clara dos anos depois de seu governo é que Jair Bolsonaro não é uma pessoa atenta. Apesar de alguns acharem que ele tem uma visão estratégica surpreendente, o que as pessoas com mais vivência política pensam sobre isso é que, em terra de cego, quem tem um olho é rei. Antes que alguém tente furar seu olho, o presidente mesmo se encarrega de atentar contra si, cortando a própria pele.

Em uma canetada, Bolsonaro trocou seis ministros e o presidente da Petrobras. Sinalizou claramente que seu melhor amigo no momento é o Centrão e fez beicinho para as Forças Armadas e alijou seus apoiadores ideológicos ligados a uma ideia enviesada de soberania nacional. Parece que o incensado enxadrista político que Jair pensa se está ficando encurralado.

Quem sofre com isso é o povo, que se ressente de uma coordenação nacional contra a covid-19, que não tem um apoio decente do governo federal para sobreviver ou manter sua render ou seus negócios durante a pandemia, que não vê uma liderança guiar o país em um cenário de estabilidade que dê segurança à população.  No fim, quem dança, mais uma vez, somos nós, o povo.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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