Artigo: Veja bem

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Por: Rodrigo Segantini*

Na edição mais recente da revista Veja, publicação de circulação nacional dentre as mais lidas do país, houve uma publicação a respeito de minha história ao lado do meu filho Arthur. Uma página inteira só com o relato, outra página com uma foto linda nossa em preto e branco. Recebi cumprimentos de inúmeras pessoas por causa disso. No entanto, sinceramente, isso não me impressiona – não mais.

O que me motiva não é a publicidade que minhas vivências possam ter, mas sim de que forma que elas podem inspirar pessoas que passam por enfrentamento de perdas e dificuldades. Sei bem que a história do menino que sobreviveu após ficar entre a vida e a morte por quatro meses na UTI logo depois de seu nascimento comove as pessoas e lhes traz esperança; também sei que a história do viúvo que acompanhou a esposa que ficou em coma por um ano antes de falecer e que desde então segue sozinho ao lado do filho também é capaz de acender os corações mais duros. Por isso, eu e Arthur seguimos contando nossa história, seja em nossos perfis nas redes sociais, seja nas entrevistas que damos para veículos de imprensa, seja nos livros que publicamos. Não há vaidade: há solidariedade.

Diariamente, recebo centenas de mensagens de gente do mundo todo pedindo ajuda, pedindo conselhos. Geralmente, são pessoas que, diante de uma dificuldade, não sabem mais o que fazer. Eu respondo, pessoalmente, uma a uma. Dou atenção, amparo e compartilho sugestões sobre como superar o problema que as aflige. Atualmente, mais de 500 mil pessoas ao todo nos acompanham em nossas redes sociais. Por isso, embora tenha achado legal ter saído na Veja e ter ficado envaidecido, a verdade é que não é algo tão importante como parece. O que importa é quantas pessoas a mais terão seus corações tocados ao ler tal reportagem.

Por que estou escrevendo sobre isso? Para que você reflita a respeito. Eu, que passei por tanta dor e desesperança, que cheguei a comprar o jazigo do meu filho, que passei um ano e meio ao lado do corpo imóvel da minha esposa, ainda tento me colocar no lugar das pessoas ao meu redor para ajudá-las a superar o que lhes aflige. Depois de tudo o que nós todos temos enfrentado desde o ano passado por conta pandemia, você está preparado para ser mais solidário, mais empático? Você é capaz de, em vez de reclamar disso ou daquilo, se colocar no lugar do outro e compreender o que está se passando para ajudá-lo a solucionar o que está errado?

Veja bem: tudo isso é uma provação, afinal. Como você está se saindo?

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp

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