Artigo – Cristo é a nossa Paz: Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

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Por: Paulo Cesar Cedran*

A V Campanha da Fraternidade Ecumênica, cujo tema Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor tem como lema Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade (Ef. 2,14ª), propõe nestes tempos difíceis que estamos vivendo, a retomada da característica central que fez do cristianismo, a ética fundante da civilização ocidental, ou seja, a presença da unidade em Cristo, na diversidade dos povos.

Esta marca indelével do cristianismo, implodiu a decadente estrutura do Império Romano e de sua pax romana, ao mesmo tempo que provocou uma revolução na leitura que o judeu Jesus, fez do próprio judaísmo e de todo o sectarismo que permeia o espaço religioso sob a ótica dos eleitos, apartados do mundo ou dos escolhidos por um Deus.

Num momento em que a pandemia da Covid 19, vem interrompendo centenas de milhares de vidas de mulheres, homens, crianças, jovens, idosos e idosas, essa estrutura decadente do Império Romano que hoje pode ser lida pela estrutura decadente do próprio sistema capitalista, escancarou no Brasil, a estratificação social, econômica e social e nos lançou num novo desafio: como resignificar o diálogo, a união e a paz num mundo e num país tão cheio de radicalismos e polarizações.

Diante deste cenário de incerteza, muitos fizeram da religião, um espaço para intensificar o assombro e o medo diante de um Deus que castiga e pune num severo alerta de que “Jesus está voltando para julgar a humanidade, nesse que seria o fim dos tempos. Este discurso fundamentalista religioso ecoou em coro aos discursos negacionistas sobre a realidade e a fatalidade a que o mundo foi exposto, diante dessa pandemia. Mas se cremos em Cristo e professamos Sua fé, devemos escancarar as portas dessa condição de desigualdade e lutar para transformar essa realidade. As tensões surgidas na sociedade e presentes em nossa comunidade e em nossa própria família, impactam as relações e as respostas a elas, as quais irão contribuir para derrubarmos os muros do racismo, das desigualdades econômicas da dificuldade de convivência com opiniões diferentes e mesmo ao ataque às instituições que garantem a ordem democrática.

A busca por respostas pode nos levar ao refúgio no sagrado, tornando a vivência da fé uma possibilidade de segurança e proteção, para enfrentarmos de maneira consciente, estes momentos. Nestas duas primeiras décadas do século XXI, mesmo diante de toda a luta pela garantia dos direitos humanos, a crise econômica mostrou que milhões de pessoas foram levadas à pobreza, enquanto bancos foram socorridos, num contexto sombrio de predominância do capital financeiro.

A Covid 19 mostrou ainda como o capital se apropria dos bens comuns e os explora para os seus próprios interesses, vide nossos rios poluídos e nossas florestas derrubadas. Apresentando as novas cruzes, o texto básico da Campanha da Fraternidade cita, de forma contundente, os efeitos da necropolítica e seus reflexos sobre a violência sobre jovens e mulheres, as reformas trabalhistas e previdência social e a violência imposta à população LGBTQI+, apresentando uma triste estatística: “o Brasil está entre os quatro países que juntos somam, 80% dos assassinatos de ativistas por direitos humanos no mundo. Em 2017, foram registradas 312 mortes no mundo, das quais 212, nas Américas. Em nosso país, foram 156 casos”. (MANUAL DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE – TEXTO BASE 2021, P.37).

Se estamos lutando para destruir muros e construir pontes, a intolerância religiosa também tratada na campanha, deve ser nossa prioridade quando refletirmos a prática de Jesus em nossos dias, pois sempre que alguém em nome da fé cristã incentiva a intolerância religiosa, os muros que nos separam tornam-se mais fortes perante a mensagem de amorosidade do Mestre Jesus. Assim, o apóstolo Paulo, na carta aos Gálatas, e hoje para nós orienta: “não há judeu, nem grego, não há escravo, nem livre, não há homem e nem mulher, mas sois um em Cristo Jesus” (3,28).

Na carta aos Efésios, cujo lema a campanha se assenta, encontramos Jesus Cristo, como o vínculo que une a comunidade e garante a experiência dos sinais do reino no meio de nós: amor, benevolência, perdão, liberdade e graça. Se Cristo é a nossa paz, não deve haver em nós, lugar para o racismo, ódio, discriminação e violência, pois não é possível estar com Deus e ao mesmo tempo discriminar e desrespeitar outras pessoas por causa de suas diferenças étnicas, religiosa e ou de gênero.

O tempo da quaresma este ano nos convida a que não permaneçamos como eternas crianças na fé, mas que amadureçamos na fé em Cristo e em sua capacidade de amar cada pessoa incondicionalmente. Que possamos julgar nossas ações, a luz da palavra de Deus, para que como o Cristo, consigamos derrotar os poderes que nos destroem e nos separam e que assim consigamos ser livres para praticar a equidade, a inclusão e a unidade na diversidade. O diálogo é o primeiro gesto para que passando pelas cruzes da divisão, intolerância e ódio, possamos alcançar a ressurreição em Cristo, pela união, tolerância e amor, sinais de verdadeira fé.

*Paulo Cesar Cedran, Mestre em Sociologia e Doutor em Educação Escolar.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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