Artigo: Tornar-se negro; desconstruir-se racista

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Por: Luís Bassoli

√ Lélia Gonzalez foi a mais importante intelectual negra do Brasil, filósofa, historiadora, doutora em Antropologia, especialista em gênero e etnia.

Lélia é autora da célebre frase: “A gente não nasce negro, a gente se torna negro”.

A ideia se fundamenta no problema do racismo estrutural que existe no Brasil, sob o qual assumir-se negro é encarar uma dura batalha, é enfrentar as mais cruéis dificuldades.

Tornar-se negro, pois, é um processo, uma conquista que se desenvolve pelo decorrer da vida.

No Brasil do bolsonarismo, temos alguns exemplos enigmáticos de pessoas que nasceram negras, porém, assim não se identificam, e que não só rejeitam a raça, como também a desprezam – são negros racistas.

Dois casos notórios: o Hélio Bolsonaro (ou Hélio Negão), uma espécie de serviçal do clã, que se submete ao papel de “objeto”, de “adorno”, para que a familícia bolsonara finja que não é racista; e Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, órgão criado para a promoção da afro-brasilidade. Camargo é uma aberração, um “capitão-do-mato” a serviço do racismo governamental, um sujeito nefasto a quem foi dada a incumbência de destruir as políticas de igualdade racial.

Por outro lado, temos o caso de Neymar, o maior ídolo do futebol brasileiro da atualidade, que vem construindo sua identidade negra. Há alguns anos, o ex-jogador do Santos de Pelé chegou a dizer que não era negro; todavia, de tempos pra cá, passou a ter consciência de sua negritude e entrou na luta contra o racismo, acompanhando seus amigos (e igualmente ídolos do esporte) Lewis Hamilton e LeBron James.

Neymar demostra um amadurecimento ao se “tornar negro”!

Nesse mesmo sentido, muitos brancos – entre os quais me incluo – têm se esforçado em desconstruir o racismo que nos acompanha por toda a vida. Isso passa por agir em diversas frentes, desde abandonar – e abominar – as piadinhas e insinuações de cunho racista, até defender ostensivamente o direito à igualdade racial.

A filósofa norte-americana Angela Davis sentenciou: “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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