Parasita – Filme Sul Coreano que levou uma estatueta para casa

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Por: Carlos Ricci

O cineasta sul-coreano, Joon-hoBong, vem há anos trabalhando em filmes que geram discussões sobre a sociedade contemporânea e seu comportamento. Os trabalhos mais conhecidos do diretor talvez sejam Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017), ambos realizados nos Estados Unidos. De volta as origens sul-coreanas, Joon-ho traz em Parasita, seu novo longa-metragem, outra discussão sobre classes sociais, dessa vez de forma mais aprofundada e reflexiva, e acima de tudo, direta.

Em Parasita, a família de Kim Ki-taek, um motorista desempregado, vive em um pequeno apartamento no sub-solo de um prédio, e luta diariamente para sobreviver com pequenos trabalhos. Um dia, Ki-woo, o filho mais velho de Ki-taek, recebe de um amigo uma proposta de emprego para atuar como professor de inglês para o filho mais novo dos Park, uma família rica. Ki-woo decide então realizar um grande plano para empregar toda a família nessa casa.

Apesar da sinopse vaga, o texto de Joon-hoBong e Han Jin Won vai muito além disso. O roteiro cria várias camadas para contar a história, onde todas as personagens, desde os membros da família Kim, até as com menos tempo em tela ganham um peso genuíno e uma construção nos detalhes, realizada por um sub-texto inteligente e perspicaz.

É difícil indicar Parasita em um gênero específico, já que o longa flui entre os mais diversos formatos narrativos. É possível notar que o humor-negro é presente na maior parte do filme, e apesar de conseguir ser realmente engraçado em algumas situações, é notável que ele não temesse como o principal objetivo. As risadas aqui não surgem somente para entretenimento, elas geram um tipo de reflexão. O riso é sempre seguido de um estalo de dedos para que você desperte.

Esse uso do humor não é gratuito, já que serve de apoio para que o suspense surja. Conforme a direção de Joon-ho vai para caminhos mais questionáveis, mais o filme se torna instigante. Propositalmente estranho, o objetivo principal é criar desconforto, e consegue. Com o apoio da fotografia de Hong Kyung-pyo, a sujeira vivida da família pobre e o ambiente limpo e gigantesco da família rica entram em contraste mais direto, criando uma sensação de diferença social ainda maior quando há a inserção de personagem de núcleo A ocupando o espaço de personagem de núcleo B.

O complemento perfeito para a história é o elenco. O destaque maior vai para Kang-ho Song (Kim Ki-taek), que consegue transitar bem entre as características de sua personagem, e pontuar perfeitamente com o olhar as mudanças de humor. O resto do elenco também vai além de somente cumprir suas tarefas, onde todos conseguem se destacar de alguma maneira. Este composto por Choi Woo-shik (Kim Ki-woo), JangHye-jin (Kim Chung-sook), Park So-dam (Kim Ki-jung), Lee Sun-kyun (Mr. Park), Cho Yeo-jeong (Mr. Park), Jung Ji-so (Park Da-hye) e Jung Hyun-joon (Park Da-song).

A direção de arte ajuda a fotografia na criação do contraste social, criando cenários de acordo com a vivência de cada família e reforçando a classe social de cada núcleo. A trilha sonora de JeongJae-il é instigante e serve de apoio na criação de suspense. O ambiente se torna assustador de uma maneira realista. Apesar de não haver um real terror com jump-scares e clichês do gênero, ainda assim é possível se sentir incomodado e aterrorizado com o que é mostrado pelo filme.

Toda essa composição do longa, com detalhes minuciosos, ajudam-no a narrativamente dizer o necessário para que o geral seja compreendido. A acidez na direção de Joon-hoBong é claramente proposital. Parasita não é um filme divertido, é duro e indigesto, feito para você revisitar algumas vezes se necessário. É importante saber disso quando assisti-lo, prestar atenção nos detalhes aqui é essencial. Quando elevado ao seu clímax, é uma obra que surpreende, mas é bem calculada para que este ápice faça sentido.

Com um sub-texto poderoso, acidez narrativa e uma crítica bem pontuada, Parasita se forma como uma obra-prima contemporânea sobre a sociedade de classes. Joon-hoBong cria em seu mais novo filme uma estrutura incomodamente cômica e com um suspense que te segura na cadeira, realizando assim, um dos trabalhos mais geniais da década.

*Carlos Ricci é crítico em Cinema e estudante de Cinema

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