Carpe diem: não deixe nada para semana que vem

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

“Carpe diem”. A primeira vez que ouvi esta expressão, compreendendo-a como uma metáfora de aproveitar à vida, foi em 1994 durante uma aula sobre “Arcadismo” na  ETE, hoje ETEC “Dr. Adail Nunes da Silva” (Escola Técnica Estadual), ministrada pela professora Sandra Orrico. Quanta propriedade ao falar do bucolismo contido naquela escola literária, e como aquela docente sabia aproveitar ao tempo da aula para contextualizar todo aquele baú de informações com a nossa realidade. Em “Sociedade dos poetas mortos” compreendi filosoficamente a dimensão e o anúncio proferido por tal vocábulo latino. Este que teve em Horácio seu autor. Em seu poema de mesmo nome da palavra latina exposta no início deste texto,  o poeta versa:

Não interrogues, não é lícito saber a mim ou a ti
que fim os deuses darão, Leucônoe. Nem tentes
os cálculos babilônicos. Antes aceitar o que for,
quer muitos invernos nos conceda Júpiter, quer este último
apenas, que ora despedaça o mar Tirreno contra as pedras
vulcânicas. Sábia, decanta os vinhos, e para um breve espaço de tempo
poda a esperança longa. Enquanto conversamos terá fugido despeitada
a hora: colhe o dia, minimamente crédula no porvir.

[Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, vina liques, et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.]

Já em “Semana que vem”, a compositora Pitty faz a intertextualidade com o texto do poeta Horácio:

“Semana que vem
Esse pode ser o último dia de nossas vidas
Última chance de fazer tudo ter valido a pena
Diga sempre tudo o que precisa dizer
Arrisque mais pra não se arrepender
Nós não temos todo o tempo do mundo
E esse mundo já faz muito tempo
O futuro é o presente, e o presente já passou
O futuro é o presente, e o presente já passou

Não deixe nada pra depois
Não deixe o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar
Pra depois
… O tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar…”.

            Aqueles que tiveram aula comigo sabem do amor que nutro por tal película (“Sociedade dos poetas mortos”) e conhecem-na como poucos, pois faço questão de assisti-la e analisá-la com os discentes. As lágrimas transbordam pela minha face, principalmente quando os alunos sobem em suas carteiras ao despedir-se do Capitão, diferente deste capitão que conduz a nossa Nação.

            Essa pandemia parece que veio avisar-nos que nada somos. Que o tempo é um suspiro. E que o ser humano é passageiro. Somente nossas palavras são capazes de se perpetuarem, as imagens são memorizadas e eternizam-se no coração daqueles que nos narram. Mas o tempo urge, como bradava um importante personagem interpretado pelo saudoso José Wilker. É necessário amarmos mais, exercitarmos o altruísmo e correspondermos a cada gesto indigesto com o perfume exalado pela rosa mais bela do seu jardim. Aproveitem à vida com o tempo que ainda nos resta. Como dizia o poeta Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã…”.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor da Rede Adventista em Santa Catarina; Corretor de Textos em “Redação sem Medo”.

 

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