O 1º de Maio mais, importante da História

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Por: Fábio de Salles Meirelles*

Desde 1925, quando foi comemorado oficialmente pela primeira vez no País, após ser instituído em 26 de setembro de 1924 pelo decreto nº 4.859, do então presidente Arthur Bernardes, o Dia do Trabalho jamais havia transcorrido numa situação tão grave como este de 2020, marcado pelo novo coronavírus. No verdadeiro cenário de guerra contra um inimigo agressivo e invisível, este 1º de maio reitera, com gigantesca ênfase, o talento, raça, criatividade, resiliência e responsabilidade das mulheres e homens brasileiros na luta pela vida, suas famílias, a sociedade e a Nação.

É respeitável o empenho dos milhões de profissionais que, superando dificuldades operacionais e atuando com eficácia, estão nas ruas, nos campos, nas construções, nas fábricas de bens essenciais, no abastecimento, nos hospitais e ambulatórios médicos, na segurança pública, como policiais e bombeiros, nos IMLs, na limpeza urbana, nas universidades e laboratórios, bem como os demais que estão em regime de home office. É um contingente heroico de pessoas demonstrando literalmente que “um filho teu não foge à luta”. Nesse aspecto, deve-se enfatizar o papel dos produtores e trabalhadores rurais, cujo esforço tem sido decisivo para a alimentação dos brasileiros.

Exemplo da mobilização e eficiência dos trabalhadores encontra-se no papel importante que têm desempenhado na implantação e manutenção das medidas de enfrentamento à Covid-19 que adotamos na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). Logo nos primeiros dias de informações sobre a pandemia, instituímos o Comitê de Crise, para monitorar e propor ações de apoio ao produtor rural, minimizar os impactos nas suas atividades e no abastecimento de alimentos à população.

A entidade está exercitando seu papel político com foco em soluções. Sua diretoria mantém reuniões, por meio digital, com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, para garantir que os gargalos iniciais ao abastecimento (caminhoneiros, portos e incentivo e garantias à produção e merenda escolar) não se tornassem problemas irreversíveis e agravantes dos efeitos da pandemia. Ainda no âmbito federal, atuamos junto com a Ceagesp, contribuindo para manter o abastecimento. Também nos articulamos com o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Uma das primeiras providências do Comitê de Crise foi a criação de um grupo e rede de inteligência para monitorar em tempo real os problemas e garantir a manutenção das operações da cadeia produtiva do abastecimento, disponibilizando canais diretos para que os produtores relatassem suas dificuldades e necessidades. Também encaminhamos ao Governo Federal e ao do Estado de São Paulo, propostas para reavaliação do crédito rural, tributação, prorrogação de prazos, redução ou retirada de taxas, visando garantir o bom desempenho da agropecuária.

Em outra iniciativa, a federação criou o “Pertinho de Casa” (http://www.pertinhodecasa.com.br), que, sem fins lucrativos, conta com o apoio do Sebrae-SP, SENAR-SP, Accenture, Facebook, V-Tex e Pag Seguro. Trata-se de plataforma digital que conectou produtores rurais e pequenos varejistas aos compradores. Tudo sem custos e taxas de utilização, tanto para quem vende quanto para quem compra, agilizando e barateando o processo de comercialização dos produtos, que as pessoas podem adquirir remotamente em estabelecimentos próximos de suas moradias.

Iniciamos, ainda, a produção de três milhões de máscaras por costureiras instrutoras do Senar A.R./SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – São Paulo). O projeto, integrado com os sindicatos ligados à Faesp, contribui para a proteção de trabalhadores rurais contra o contágio. Também contempla profissionais de santas casas de misericórdia de municípios paulistas e gera renda para numerosas mulheres, muitas delas chefes de família.

Em todas essas frentes, tem sido decisiva a participação dos colaboradores de nossas entidades, do meio rural, de profissionais de informática e da cadeia produtiva do abastecimento. Tamanha mobilização demonstra que o agronegócio será um dos principais pilares de reconstrução da economia. O Brasil está prestes a colher a maior safra de grãos da história e tem condições de garantir segurança alimentar para sua população e o mundo. Em tempos de pandemia, esta é uma certeza que proporciona tranquilidade.

O agro não parou e não vai parar. O setor representa cerca de 22% do PIB total do País, tendo crescido 3,81% em 2019, ou seja, acima da economia. Movimenta mais de R$ 600 bilhões por ano e, segundo estudo do Cepea/Esalq (Centro de Estudos de Economia Agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Piracicaba), emprega quase 20 milhões de pessoas, aproximadamente 10% da população brasileira.

Exemplos de como toda essa força laboriosa, empresas e instituições estão engajadas na luta contra a Covid-19 multiplicam-se no País, tornando este 1º de maio o mais importante Dia do Trabalho da História do Brasil. Cada menina, menino, adolescente e jovem das presentes gerações relatará aos seus filhos e netos a saga desta gente corajosa numa das mais duras batalhas da humanidade em todos os tempos. “E, à noite nas casas, se alguém duvidar do que ele contar, tornará prudente: — crianças, eu vi!”, verso que tomo a liberdade de adaptar da estrofe final de “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias.

*Fábio de Salles Meirelles é empresário do setor agrícola e presidente do Sistema FAESP-SENAR A.R./SP (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, em São Paulo).

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