Esquina – Será que não tem mais nada de bom?

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Por: Tuca Sant’Anna*

Falar do falecimento de Moraes Moreira (o cantor que inspirou o bloco “Chame Gente” em Taquaritinga, cujo estribilho deverá ser inclusive tema do samba-enredo do grupo do jornalista Gustavo Girotto e da top-model Rita Palito (agora mais gordinha) no Carnaval de 2021 seria o de menos neste hecatombe de notícias ruins que se abate sobre nós neste início de ano bissexto.

Quando dei uma pausa nestes meus escritos no jornal O Defensor me pareceu ser coisa passageira, breve, quase instantâneo. Os leitores nem perceberiam a minha ausência momentânea. Mas perceberam. O tempo passou, como diria Fiori Giglioti narrando uma partida do CAT no Estádio Taquarão, que teve que ser interrompida por causa do vírus Corona pra desespero do De Mazzi.

Enquanto relembrava com o Mauro no alpendre de casa da época em que trabalhei com o já saudoso Edevídio Bussadore, proprietário do Nosso Jornal, ao lado do Alderico (Lacerda), Edegard (Frangão), passagens do semanário – que já chegou a ser bissemanário – o jornalista Gabriel Bagliotti me avisou via internet: “O Edevídio morreu”. “Será menos um nestes tempos chatos’”, respondi, “em que até a música e a própria literatura tá cheia de tolices”.

Entretanto, contudo, como diria a avó portuguesa do Édson Cândido, “desgraça pouca é bobagem”, não esperava que ficariamais chato ainda como ficou. Tomar uma no Bar do Jura (em frente ao antigo Clube Imperial, onde já foi o Bar do Toca. Hoje, nem o clube existe mais) não dá. No Arêa Leão, do Gilson Considerado, então, nem pensar. Se você quiser engordurar o bigode num pedaço de costela, por exemplo, no Copacabana, o Bar do Tio, é um tanto quanto sem graça, pois não dá pra molhar o bico num copo de pinga do engenho.

Quando conheci o Tiago Galatti no Posto Energia (que também não existe mais, infelizmente, com aquela alegria de lindas e educadas balconistas, a gente ficava horas a fio entre um copo de cerveja e risos de uma conversa saudável.Tiago não era de beber muito, mas apreciava o bate-papo. Era falador, falava pelos cotovelos, nisso pintava o sete.

Mais tarde, quando fiquei sabendo que ele era filho da Ângela, minha grande amiga de Facebook, nossa amizade cresceu ainda mais. Mesmo quando a loja de conveniência do posto fechou, Tiago me seguiu. É que seu xará Tiago Massola, filho do escravo João, acabava de abrir a Padoquinha da Major, onde era o Açougue do Pinceta, tio do Felipe, boteco muito aprazível. Trocávamos dedos de prosa naquelas tardes calorentas de dezembro; antes da pandemia.

O jovem Galatti, sobrinho do que faz aqueles lanches deliciosos, que minha filha Geandra Nayara se empanturrava de xis-tudo nos finais de semana, gostava mesmo era de carros luxuosos, faróis altos, para-lamas baixos, escapamento aberto e assento de couro. Apreciava viver a vida. Morreu sem se despedir dos amigos como uma vítima qualquer de coronavírus, nome mais associado a usina de cana-de-açúcar, que também não se despedem de amigos e familiares, morrem sozinhos. Infelizmente.

*Tuca Sant’Anna é jornalista e colaborador de O Defensor

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