Artigo: Aula de Gramática

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Ao descer a José Bonifácio, como faço todos os dias quando saio do colégio rumo a minha residência, apreciei uma cena que condizia com a minha nobre profissão. A moça que seguia um pouco adiante, carregando um celular, explicava ao seu interlocutor o uso dos homônimos, mais especificamente a utilização dos porquês. Representava não ser um especialista, porém tentava, a qualquer custo, definir a sua utilização.

Parecia que a seguia para ver qual o desfecho daquela “aula de gramática”, mas é que meu caminho tomava a mesma direção que o dela. Naquele instante, alguns minutos, tomamos o mesmo curso, seguimos o mesmo afluente, éramos a expressão de um país gramatical.

Ela insistia que aquele porque seria grafado como “por que”, isso separado, devido o seu uso no início de um questionamento. “Pode colocar”, dizia a moça. “Estou lhe garantindo”, “Não insista, pois não falarei o restante”, e o celular seguro à mão, esbanjando uma sabedoria peculiar aos gramáticos de plantão. “Agora, caso esteja ao final de um questionamento aí você coloca aquele chapeuzinho e o separa, sim o chapeuzinho do vovô. Não adianta insistir, que não sei o nome daquela …, não gostava da professora de língua portuguesa, uma chata que achava que o mundo girava ao seu redor”.

Prestava atenção à sua fala e à aversão em relação ao docente da nossa língua-mãe. De fato o professor não soube aproveitar-se das qualidades da língua portuguesa e relacioná-la com o cotidiano de seus alunos. “Você entendeu? Tem mais? Pelo amor de Deus, meus créditos estão acabando, mas vamos lá, veremos o que mais sei. Quando o porque está todo junto e sem o acento é que ele é uma resposta. Isso, r-e-s-p-o-s-t-a”. E sem tempo a perder a jovem atravessou a rua, desceu a Sete de Setembro, passou pela locadora, pegou um filme que me representou ser 2012 e seguiu. Eu a acompanhava, em passos lentos, para não parecer suspeito. “O último é aquele todo junto com o chapéu, o mesmo do separado e com chapeuzinho. Entendeu? Na verdade não sei qual a sua utilidade, mas me disseram que é para mostrar um tal de substantivo que eu já me esqueci do que se trata. Até mais”. Achei aquela cena hilária, prossegui, dei mais alguns passos e entrei na casa da minha avó Carmem, apreciadora da boa e eterna poesia.

*Prof. Sérgio A. Sant’Anna – Taquaritinguense.  Professor de Redação e Língua Portuguesa na Rede Luterana de Ensino de Porto Alegre e Região Metropolitana; Professor na Rede Universitário de  Cursinhos Pré- Vestibulares do Rio Grande do Sul e Professor de Atualidades e Redação do Certo Vestibulares em Porto Alegre.

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