Superação: jovem que dormia na rodoviária de Brasília se forma em Direito

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Foram cinco anos dormindo no pátio da rodoviária de Brasília, revirando o lixo para encontrar sobras de alimentos descartados por outras pessoas e sendo submetido a situações humilhantes.

Walisson Pereira da Silva, de 32 anos, deixou tudo isso para trás com a ajuda de amigos e desconhecidos. No início do ano, formou-se em Direito. Não que tenha sido fácil: dividia o tempo frequentando as aulas na faculdade e os estudos em bibliotecas públicas com as noites dormidas na rodoviária da capital brasileira.

“Sempre acreditei que conseguiria vencer”, diz. Em 2014, ele lembra, começava os estudos ao passo que buscava forças para continuar estudando. Agora, cinco anos depois, está realizando o sonho de se formar.

A formatura acontecerá no próximo mês e foi paga integralmente pela empresa de eventos, que se sensibilizou com a história de Walisson.

O jovem criou uma vaquinha online para arrecadar recursos suficientes para um tratamento dentário e para se manter nos próximos meses até arranjar um emprego.

“Estraguei meus dentes com essa vida nas ruas e, hoje, um grupo de amigos se juntou para pagar meu aluguel”, diz. Ele gasta mensalmente com despesas de aluguel, alimentação e transporte cerca de R$ 750.

“Também preciso me manter para passar no Exame de Ordem [dos Advogados]. Quero ser, acima de tudo, um defensor público.”

Em 2005, quando tinha 18 anos, Walisson foi obrigado pelo pai a abandonar a escola no último ano do ensino fundamental. Não obstante, sofria violência física em casa, motivando-o a fugir de casa.

Vivendo nas ruas, passou a sofrer violência também fora de casa. Receoso, pensava a todo momento “se seria o próximo a morrer” nas sarjetas.

“Vi várias pessoas morrendo na minha frente. A rodoviária é um lugar triste, e só sabe disso quem viveu”.

Tudo começou a mudar quando Walisson conheceu um homem em um ponto de ônibus. Ele ofereceu ao jovem um comprovante de residência para que este fizesse matrícula e terminasse os estudos numa escola pública.

Ainda vivendo nas ruas, o jovem terminou o ensino médio e não parou mais de estudar. “Eu ia sujo para sala de aula, passava a noite toda acordado pedindo esmola, acordava com sol quente no rosto, era uma saga triste”, relembra.

“Me emociona lembrar o quanto eu queria sair das ruas. Eu sabia que os estudos eram a única forma de eu sair daquele lugar.”

Em 2010, já formado no ensino médio, realizou o Enem e foi aprovado em Direito numa instituição privada, com 100% de financiamento no valor da mensalidade. Mantendo o foco nos estudos, passava o dia lendo nas bibliotecas públicas de Brasília.

Na faculdade, escondia dos colegas sua condição de morador de rua. “Eu tinha medo de descobrirem minha história, sentia vergonha, e dizia que estava sujo porque vinha do trabalho”, diz Walisson.

“Mantive em sigilo para que não soubessem da minha condição, mas eu tinha certeza que ia conseguir vencer.”

O jovem escolheu Direito, entre todas as outras opções de curso, porque viu nessa área a possibilidade mais efetiva de ajudar outras pessoas passando pelas mesmas dificuldades que ele passou pouco tempo atrás – pessoas que, assim como Walisson, “tiveram o acesso negado à educação, à justiça e a todos os direitos básicos”, em suas palavras.

“Escolhi o direito porque vi tantas injustiças acontecerem no coração da capital do país, tantos direitos sendo violados, e quis ajudar as pessoas a mudarem de vida. “Conhecimento é poder, e quem tem conhecimento não aceita qualquer coisa na vida como opção”, diz o jovem, hoje orgulhoso de ter enfrentado e superado as adversidades da vida.

Seu próximo passo é se tornar advogado e, quem sabe, atuar na Defensoria Pública.

As informações foram retiradas do site Razões para Acreditar.

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