20 de dezembro de 2024
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Artigo: A conferir

Por: Rodrigo Segantini*

Taquaritinga é uma cidade de algumas unanimidades. Por exemplo, todo mundo aqui torce pelo CAT, que une em suas três cores facções corintianas, palmeirenses e são-paulinas em torno de seu propósito comum. Outro ótimo exemplo é o padre João Francisco, que é admirado por líderes religiosos e fiéis de todas as denominações devocionais como um exemplo de trabalho cristão. E também temos a professora Neide Salvagni.

Quem conhece a professora Neide Salvagni a admira. Seja como mãe, seja como esposa, seja como vereadora, como dirigente de ensino, como educadora… não há uma pessoa que possa dirigir qualquer palavra a ela que não seja revestida de admiração, zelo e respeito. Sua competência profissional também é atestada pelo brilhante trabalho que desempenhou à frente da Educação quando foi gestora maior na Diretoria Regional de Ensino, implementando uma ação altamente comprometida com o reconhecimento dos docentes e com o desenvolvimento dos estudantes – evidentemente, relevando a disponibilidade de recursos financeiros, materiais e humanos possíveis. Sem dúvida alguma, uma guerreira lendária.

Por isso mesmo, em reconhecimento a esse currículo gigantesco e a sua reputação ilibada, o prefeito Vanderlei Mársico acertou ao chamá-la para ser a secretaria municipal de educação em sua administração. Trouxe para o âmbito da rede local taquaritinguense alguém que tinha uma experiência exponencial tanto na área quanto muito além dela. Neide Salvagni tinha muito para oferecer e, ao longo dos últimos tempos, entregou tudo o que podia.

Porém, nem o melhor soldado vence uma guerra se não tiver uma tropa a seu lado, se não tiver armamento disponível, se não tiver uma estratégia claramente bem definida por seu comandante. Recentemente, Neide Salvagni deixou o cargo de secretária municipal sobre os lamentos e os aplausos de todos. O que ninguém esperava é que o prefeito Vanderlei Mársico não aproveitaria nenhum dos talentos que temos na cidade na área da Educação para suceder a professora Neide e traria alguém de fora para dentro do jogo da política local. E daí, o susto e a surpresa de todos fazendo sombra no momento glorioso da saída de semana da gestora anterior.

O ribeirão-pretano Helder de Carvalho assumiu o encargo de dar um jeito na Educação municipal. Ele, que é professor de história e tem uma passagem como agente administrativo na secretaria municipal de educação de sua cidade, atualmente se apresenta como consultor político, inclusive vendendo cursos on line e ebooks com temáticas relacionadas à militância partidarizada com propósito eleitoreiro. Porém, não há nenhum apontamento relevante em seu currículo como gestor educacional. Isso causa certa estranheza, uma vez que, embora seja difícil encontrar alguém que tenha a estatura de Neide Salvagni, é inegável que em nossa cidade há pessoas com vastíssima experiência na área e que poderiam assumir esse papel crucial para o sucesso de qualquer governo.

Então, de alguma forma, a saída de Neide Salvagni sob aplausos é ofuscada pela chegada de um personagem que, aparentemente, não se encaixa no papel em aberto. Por que o prefeito entendeu que seria mais adequado colocar em um cargo de gestor público até então ocupado por um profissional com vasta experiência na área alguém que se empenha tanto em lustrar seu currículo como um marqueteiro?

Evidentemente, essa estranheza que essa circunstância me causou também afetou a outras pessoas, como, por exemplo, os vereadores. Helder de Carvalho, que ainda não está familiarizado com a política local, achou que seria uma boa ideia ir à Câmara Municipal e se apresentar aos respeitáveis edis. No entanto, essa pode não ter sido uma decisão tão feliz, já que deu para ver pequenas faíscas no embate entre os que estavam no plenário e quem estava na tribuna. O secretário falou, falou, falou e não disse nada… e os vereadores perguntaram para resolver suas dúvidas e saíram com mais dúvidas ainda a respeito. Convenhamos, não é um bom sinal, não é um bom começo. Mas, enfim, é o que tem para hoje.

Do fundo do meu coração, torço para que Vanderlei Mársico tenha acertado em nomear Helder de Carvalho para dirigir uma pasta tão estratégica para uma administração municipal. Desejo todo sucesso do mundo a Helder de Carvalho no tempo em que estiver como secretário municipal de educação em Taquaritinga. Mas não vou disfarçar que estou um tanto apreensivo. Querer que tudo dê certo é bem diferente de ser leniente e ficar passando pano. Estamos aqui na aguardando pelo melhor, mas, enquanto ouço lamúrias pela saída de Neide Salvagni, fico na expectativa se esses lamentos se seguirão mais tempo do que o devido. Afinal de contas, se nosso futuro são nossas crianças, cuidar de nossas crianças é o que mais de importante o prefeito pode fazer – e não há modo melhor que cuidar de nossas crianças do que primando pela excelência na gestão da Educação.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.