Artigo: Quem vai para o céu?
Por: Carlos Galuban Neto*
ÓVNIs invadem e sobrevoam o espaço aéreo norte-americano. Desentendimentos entre EUA e Rússia levam o mundo ao mais próximo de um conflito nuclear desde a Crise dos Mísseis nos anos 60. Na Turquia e na Síria, seguidos terremotos deixam milhares de mortos e feridos.
Nunca fui um adepto de profecias bíblicas, mas parece que o sujeito lá de cima – se é que ele existe – não anda muito satisfeito com algumas atitudes de suas criações – de que são exemplos dancinhas do TikTok, realities shows de culinária e de reforma de casa, cigarros eletrônicos, beach tênis e o veganismo – e resolveu reativar o modo Antigo Testamento, despejando sobre nós, mundanos, suas frustrações.
Caso estejamos mesmo próximos do fim, seria interessante se a Providência Divina divulgasse uma espécie de edital contendo a nota de corte necessária para a aprovação no dia do Juízo Final, bem como as pontuações atribuídas a cada tipo de boa ou má ação. Fez o bem ao próximo? 100 pontos. Fez o bem ao próximo e não postou no Instagram? Parabéns, merece o dobro da pontuação. Da mesma forma, serão tirados pontos de quem houver espalhado fake news, defendido que o Palmeiras tem mundial ou dito que Cristiano Ronaldo é melhor do que Messi.
Assim, cada mortal poderia verificar se tem débitos ou créditos no que diz respeito à lista de convocados para ingresso na vida eterna. Se houver nota sobrando, ótimo, basta aguardar pela absolvição divina. Caso contrário, o sujeito ao menos poderia se dedicar a obras de caridade para melhorar sua nota ou, quem sabe, comprar os créditos excedentes daqueles já agraciados com um lugar na lista de aprovados da morada eterna. Ainda, poderiam ser adotados os critérios da apuração do Carnaval: o sujeito obtém o reconhecimento das melhores ações e tem o descarte das piores.
Este colunista, por exemplo, com toda a modéstia, acredita ter nota sobrando para entrar no Paraíso: só quem sobreviveu a 02 (dois) anos de primeira comunhão e a 04 (quatro) anos de crisma conhece as dores de assistir a aulas de educação sexual ministradas de acordo com a doutrina da Igreja Católica, de participar de sessões de oração do Cerco de Jericó ou de aguentar a missas e procissões da Páscoa.
Tudo bem que, ao longo do caminho, tive meus pecados, mas acredito que os 06 (seis) anos de catequese, as inúmeras quartas-feiras de cinzas e sextas-feiras sem colocar carne vermelha na boca, o dinheiro depositado no ofertório durante as missas e as sessões de confissão com diferentes padres foram mais do que suficientes para me conceder a redenção perante o Criador.
É verdade também que, ao contrário do que pediam alguns líderes religiosos, nunca votei em candidatos conhecidos pela defesa do lema “Deus, Pátria e Família”, mas, se isso for um requisito indispensável para o ingresso no Paraíso, ficarei feliz de aguardar minha aprovação no purgatório ou em algum buraco mais embaixo.
*Carlos Galuban Neto é advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.