Artigo: O Brasil e seus presidentes insanos
Por: Luís Bassoli*
Em 1915, já se tratava da sucessão do presidente Venceslau Brás, cujo mandato se encerraria em 1918.
Cogitava-se o nome do impoluto Rui Barbosa, que não conseguia consenso nas disputas provincianas.
Daí, foi resgatado o velho conselheiro paulista e ex-presidente da República, Rodrigues Alves, para a empreitada.
O então governador de São Paulo, Altino Arantes, ponderou que Rodrigues Alves, de saúde abalada, provavelmente morreria antes da posse.
Mesmo assim, os articuladores arriscaram e, por sugestão de Nilo Peçanha, escolheram o governador de Minas Gerais, Delfim Moreira, para vice, mantendo-se a aliança café-com-leite, aceita pelos estados do Norte/Nordeste e pelo Rio Grande do Sul.
Como previsto, Rodrigues Alves morreu antes da posse, provavelmente de gripe espanhola.
Em 14 de novembro de 1918, véspera da posse, o Congresso é avisado que o vice assumiria como Presidente Interino.
Empossado, Delfim Moreira vivia alheio à realidade, ia diariamente à antiga casa de Rodrigues Alves, o “Catetinho” para saber o que fazer, como proceder etc.
O presidente não era procurado por ninguém; não governou o Brasil, tarefa delegada ao ministro da Viação e Obras Públicas, Afrânio Franco.
Quando desembarcou na Capital Federal (RJ), testemunhas afirmaram que Delfim Moreira estava “mais morto que vivo”, com “debilidade gritante”.
Para o general Dantas Barreto era “tão notória a incapacidade mental de Delfim, que não a ocultavam nem por conveniência política”.
A senilidade teria sido causada por arteriosclerose ou sífilis. O presidente assinava documentos sem ler, ficava espiando políticos e autoridades, nacionais e estrangeiras, por trás das portas do Palácio, e tinha falas desconexas.
Numa ocasião, Rui Barbosa foi visitá-lo e, por horas, a porta do gabinete era levemente aberta e fechada, com o presidente a espiá-lo, sem falar nada.
Rui Barbosa teria declarado: “O Brasil é mesmo um país muito estranho, até um louco chega a presidente e eu não!”.
A Constituição previa novas eleições se o mandato fosse interrompido antes da metade.
Assim, o “presidente louco” ficou no cargo, como interino, até julho de 1919, quando foi sucedido por Epitácio Pessoa.
Em 2021, psicanalistas e psicólogos, como Guido Palomba e Marta Suplicy, chegaram ao consenso de que Jair Bolsonaro apresenta claros sintomas de psicopatia, seria, especificamente, um “condutopata”: não tem sentimentos de compaixão, empatia e altruísmo, e nem demonstra valores éticos e morais.
Em agosto do ano passado, o PDT acionou o STF para submeter o presidente a uma avaliação psiquiátrica, no intuito de comprovar sua “inaptidão mental”.
Depois de perder as eleições, o comportamento de Bolsonaro parece confirmar o diagnóstico: se isolou no Palácio da Alvorada, residência oficial, e compareceu esporadicamente ao Palácio do Planalto, que é o “escritório de trabalho” do chefe de Estado.
Recluso, em silêncio e chorando pelos cantos, o ainda presidente desapareceu também das redes sociais, deixou de fazer as tradicionais “lives” pelo youtube e nem se manifesta nos grupos de whatsapp.
Um ministro, do núcleo bolsonarista, disse à jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, que Bolsonaro “vive em um mundo paralelo”.
Por fim, a poucos dias para a posse dos eleitos Lula/Alckmin, o Brasil revive, com Jair Bolsonaro, os tempos de Delfim Moreira de ser governado por um presidente com graves transtornos mentais.
(Com: G1; estadao.com; Estado de Minas; e agências)
* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.