Artigo: A pé e mal paga
Por: Rodrigo Segantini*
O resultado das eleições em 02 de outubro foram muito mal compreendidas e vou lhe explicar o porquê. Afinal, não quero que as pessoas pensem que os leitores destas linhas são pessoas obtusas e mal informadas. Minha expectativa sincera é que aqueles que se dedicam ao que escrevo tenham como recompensa algo que possa lhes trazer algum benefício – no caso, uma análise clara e precisa do que está havendo, para que não fale bobagens, nem acredite ou dissemine notícias falsas.
Primeira coisa que você precisa saber: as pesquisas estavam certas. O resultado havido nas urnas é exatamente o que os levantamentos de intenção de votos apontavam. O aparente desacerto aconteceu quanto aos índices que Jair Bolsonaro e aqueles que apoiava obteriam e a explicação é simples. Os votos dos indecisos e o chamado voto útil foi direcionado praticamente na direção do candidato/presidente e seus correligionários. Pode pegar qualquer gráfico dos institutos de estática havidos na última semana e, no caso específico de São Paulo, você verá que, dentro da margem de erro, os índices atingidos por Lula, Simone Tebet, Ciro Gomes, Fernando Haddad, Rodrigo Garcia, Márcio França e Edson Aparecido são exatamente os anunciados. Já Bolsonaro, Tarcísio e Marcos Pontes só alcançam a pontuação que atingiram se levarmos em conta um trânsito majoritário dos indecisos em seu favor, o que aparentemente aconteceu.
Assim, não houve uma onde conservadora e nem a consolidação do “bolsonarismo”. A mensagem que o eleitorado passou foi que ainda não perdoou Lula e que ainda não encontrou alguém que mereça sua confiança – e, na falta de alguém em quem confiar, prefere optar por quem está no comando. Pense comigo: segundo as pesquisas, quem arrebatou Bolsonaro e seus amigos foram os indecisos, aqueles que diziam que não sabiam em quem votar. Quando essas pessoas tiveram que finalmente dizer em quem votariam, escolheram em manter o “status quo” do que trazer Lula de volta, o que, por outro lado, deu a entender que não confiaram que a terceira via seria realmente um caminho consistente.
Então, não pensem que o “bolsonarismo” saiu fortalecido. Quem estava próximo de Bolsonaro foi favorecido pelo sentimento anti-Lula, mas isso não quer dizer que a pessoa física do senhor Jair é maior do que o esperado. Maior que o esperado é a mágoa do pessoal em relação ao Lula e seus correligionários. Ou seja: a Justiça pode ter perdoado Lula, mas o povo parece que nem tanto.
Segunda coisa que você precisa saber: Taquaritinga enfrentará tempos difíceis. Nossa cidade depende de representatividade na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados porque precisamos das verbas que são enviadas para cá pelo Governo Federal e pelo Governo Estadual.
Dos cinco candidatos a deputados estaduais mais bem classificados aqui, o grande destaque foi Caio Forcel, que alcançou surpreendentes 15% dos votos válidos – no entanto, não foi suficiente para elegê-lo. Mesmo infortúnio teve Maciel da Rocha, que conseguiu a proeza de contar com o apoio de tantos medalhões da política taquaritinguense, mas não conseguiu se eleger. Dentre os eleitos e que tiveram votação aqui, podemos falar de Rafael Silva, Leo Oliveira e Carlos Cezar. Esses são nomes que não necessariamente tem apreço maior por Taquaritinga do que com suas cidades ou regiões de origem, já que todos são de fora e não tem grandes laços com a cidade.
Quanto aos deputados federais, igualmente cometemos um erro crasso. Nosso eleitorado devotou preciosos votos a medalhões como Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Ricardo Salles, os quais, pela sua expressiva e pulverizada votação, não terão como atender a todos que lhe renderam seus mandatos. Dos cinco mais bem votados para a Câmara dos Deputados, o campeão na cidade foi Baleia Rossi, que, com 20% dos votos da cidade, terá que representar sozinho Taquaritinga em Brasília, já que Ricardo Izar, que era outro que fazia por nós na capital federal, não conseguiu se eleger, ficando na longíssima terceira suplência. Então, ganhe quem ganhar as eleições para presidente, não poderemos contar com verbas federais como em outros tempos.
Então, com essas duas lições, esperamos que aprendamos duas coisas: uma, as pesquisas devem ser levadas em conta, sim, como instrumento de orientação para as campanhas, mas jamais se pode subestimar o poder dos indecisos; duas, vote em quem você conhece, em quem você acha que vai fazer algo pela sua comunidade. Quatro anos é tempo demais para esperar outra oportunidade.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.