Artigo: Os discursos inspiradores, os espasmos lexicais inomináveis e os sigilos seculares
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
Acredito que ao longo desses 24 anos caminhando diante da análise textual, de modo específico, já li inúmeros textos, viajei por livros e me aventurei pela escrita de algumas laudas, artigos, contos, crônicas, só não tive fôlego para algo mais denso, porém foi a oralidade que me cativou. Confesso que Rui Barbosa fora espetacular, Coelho Neto também, encantei-me com a sonoridade de Patativa do Assaré, apaixonei-me pelos sermões religiosos, na Filosofia agrado-me com os brasileiros. Karnal, Clóvis de Barros, Cortella e Pondé são os meus preferidos, todavia Viviane Mosé e Renato Janine Ribeiro são paradigmas.
Ariano Suassuna fora um articulado nato, um narrador absoluto, aquele que lidava com a palavra escrita e falada como poucos. Seus causos tornarem-se universais e seu repertório ultrapassou o limite do conhecimento. Tive a oportunidade de escutar Paulo Freire, de navegar pela sua suave melodia e dela inspirar-me em gênio, um verdadeiro mito. Paulo falou para muitos, ensinou outros vários, contudo foi através do desprezo e gracejo caviloso de fascistas que Paulo Freire passou a ser mais estudado, mais pesquisado e exaltado no Brasil como é pelo mundo.
Nos últimos anos passei a acompanhar, ao vivo, os discursos dos acadêmicos que passaram a ocuparem uma cadeira na sala dos imortais, regidos por Machado de Assis, e conduzidos pelo seu presidente atual, o jornalista Merval Pereira. A posse dos imortais é demais, entretanto o discurso dos novos membros da ABL é de arrepiar. Gilberto Gil e Fernanda Montenegro foram sensacionais. Primeiramente um trecho do discurso do compositor baiano: “A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática. Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos. A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça”. A atriz Fernanda Montenegro citou Nélson Rodrigues, Gilberto Gil e Nélida Piñon, todavia não deixou de defender à cultura aviltada pelo atual Governo Brasileiro: “Mesmo contra essa trágica, brutal posição governamental contra a cultura das artes que no momento estávamos vivendo no Brasil, resistimos. Somos eternos”. Agora o meu encanto encontrou as palavras do professor e economista Eduardo Giannetti ao declarar: “A democracia está afrontada, a obscena desigualdade agravada, a floresta violentada. O Brasil, quero crer, está grávido, no limiar de um parto temporão de cidadania. O que aí está, a apodrecer a vida, não pode durar. Porque não é nada, quando muito, é estrume para o futuro. Vocês sabem do que estou falando”.
Dos discursos políticos aos acadêmicos; dos cantos que exaltam a dor aos mais profundos hinos declamados nas batalhas de hip-hop; das palavras bradadas aos mais belos cânticos poéticos, o discurso deve prezar pelo bem do ser humano, pela evolução do seu próximo, pela luta em busca da igualdade, pelo combate à miséria, pela liberdade, pela democracia. Quaisquer outros espasmos lexicais inomináveis devem ser entendidos como falácias, tentativas espúrias de abalar a busca pela paz e ancorar-se num oceano de bravatas, manobra típica da jactância daqueles alicerçados à podridão que não pode ser investigada. E por falar nisso: Vai mais um sigilo secular aí?
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.