Artigo: A volta dos que não foram
Por: Rodrigo Segantini*
Um dia, chegou uma notícia vinda da China que por lá estava tendo um surto de uma enfermidade inédita e, por isso, algumas cidades seriam colocadas em quarentena e várias regras de restrições de deslocamento pelo país seriam estabelecidas. Embora dissessem que pessoas estavam morrendo como moscas por lá e sobre a gravidade da doença, ninguém se importou muito com o que estava acontecendo.
A coisa nos assustou mesmo quando a tal moléstia chegou na Europa e começou a devastar sobretudo a Itália. Foi então quando aquilo nos chamou a atenção e pareceu que deveríamos nos importar com o assunto. Mas, apesar de termos ficado em estado de alerta, não ficamos tão preocupados assim. Até o momento em que o tal novo coronavírus finalmente chegou ao Brasil. Daí, foi aquela confusão que todos conhecemos.
Em pânico e sem saber exatamente o que fazer, com o agravamento do quadro pelo planeta afora, governantes de todos os países estabeleceram regras que proibiam duramente a circulação de pessoas, assim como a China fez no começo da história e que aparentemente teria dado certo por lá. Tanto é que, quando o mundo inteiro estava baixando as portas e fechando para balanço, a China já estava voltando a ligar seus motores para reiniciar sua retomada.
Porém, aqui no Brasil, a situação teve um agravante bem sério. Além de haver um inconformismo sobre a política de isolamento estabelecida pelos governos dos estados e pelas prefeituras municipais por causa do impacto que isso teve na economia, houve uma resistência de primeira ordem ao uso de máscaras. Todos devem se lembrar que algumas pessoas diziam depreciativamente que o aparato seria na verdade uma focinheira.
Contudo, a população, de um modo em geral, aderiu aos cuidados estabelecidos como regra. Mais tarde, conforme as vacinas foram disponibilizadas, a respeito de toda a campanha contrária promovida, as pessoas optaram por se imunizarem. Foi assim que, pouco a pouco, o coronavírus foi arrefecendo e a covid foi deixando de grassar pelo país impiedosamente como vinha até então. Pareceu que tudo voltaria à normalidade esperada e os cuidados que estavam sendo adotados, como distanciamento social e máscaras, passaram a ser deixados de lado.
Com a chegada do inverno e o incremento dos casos de síndromes gripais, como esperado, voltaram a aumentar os diagnósticos de covid. Isso deu um susto em todo mundo, que achou que já estava tudo bem. Na verdade, a situação ter melhorado nunca quis dizer que havia sido superada. Tem gente que acredita que houve uma precipitação em autorizar que uso de máscaras fosse dispensado. Na verdade, nesta altura do campeonato, pouco importa se houve precipitação ou não. O fato é que casos de covid voltaram a ser identificados e, por isso, é preciso que voltemos a recrudescer os cuidados para evitar sua disseminação.
O uso de máscaras, a propósito, não serve apenas para precaução contra covid-19. Ela também pode servir para combater a propagação de síndromes respiratórias de um modo geral, as quais são tão comuns em épocas de frio, seja porque tendemos a ficar aglomerados em ambientes fechados para nos proteger das baixas temperaturas, seja porque os micróbios têm mais facilidade de permanecerem em suspensão pelo ar ou se deslocarem por ele pela sua maior densidade em razão da umidade. O que importa é que, por questões de saúde, não há mal nenhum em usar máscaras durante o inverno, tal como usamos agasalhos.
Entendamos que as máscaras não voltaram. Elas farão parte de nosso cotidiano, seja como um acessório próprio para tempos de frio, seja como um cuidado na prevenção de doenças. Esses são novos tempos e não tem nada a ver com política, com religião ou com qualquer outro contexto que não seja nossa saúde. Acostumemo-nos com isso e entendamos essa realidade e tudo acabará bem.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.