Artigo: Diante das pedras drummondianas, logo regozijo
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
A escrita requer um processo. É dotada de uma liturgia. Carrega em si uma função metalinguística. Há situações em que me pego desejando não escrever. Às vezes, parece ser um saco. É sacrifício. O assunto não sai. É nesse instante que o solilóquio desperta. Dialogo comigo…
Semana passada, um dos meus alunos de Redação, era novato no colégio, apresentou-me argumentos interessantes em relação à sua dificuldade em escrever. Seu empecilho consistia na ausência da leitura. Resumindo: o seu processo de escrita estava bloqueado devido sua aversão à leitura. Foi sincero. Conversamos bastante, e no outro dia ele voltou com a obra “Ilíada”, atribuída a Homero. Gostava de Mitologia e História. Esta semana compôs sua primeira obra. Desenvolveu um poema.
As dificuldades enfrentadas, do escriba ao escritor, são naturais. Faz parte do processo. Será elemento imprescindível diante do rito da produção do texto. Pois, escrita é dedicação, doação, transpiração. Não há nada de mítico, mágico, como muitos simplificam o ato de escrever. Inspiração como algo divino é fantasia. É mais um recurso para se escrever sobre.
Para escrever há que se se trabalhar. O trabalho posto pela etimologia “tripalium”, ou seja, é doloroso sim. Requer paciência. Exige concentração. Olhares atentos aos desvios gramaticais, repertório sociocultural atualizado. Poder de lidar com analogias. Saber lidar com as figuras de linguagem. Compreender às funções da linguagem. O produtor de texto precisa estar atento aos detalhes, aos pormenores; ser capaz de transformar informações em argumentos, e estes em narrações. É lindo saber lidar com os recursos que a linguagem nos possibilita, transformar em capítulos cenas do cotidiano – provocando no leitor a reflexão – fazendo-o compreender o que é verossimilhança. E que os “fatos reais”, apresentados diante das produções narrativas expostas em forma de telenovela, séries ou filmes não passa de um pleonasmo, pois se é um fato, com certeza a realidade se apresenta.
Logo, escrever é prazeroso. Porque são dessas dificuldades, desses empecilhos, dessas pedras drummondianas que o clímax se apresenta. O regozijo, vocábulo disseminado intensamente no ano passado. Somos feitos de carne e osso, e para isso temos que sangrar.
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.