23 de novembro de 2024
Nossa Palavra

O direito de ir e vir

Há algumas administrações passadas o assunto já estava na crista da onda: a permanência de moradores de rua, andarilhos, pedintes e trecheiros (cada qual com sua vertente na vida moderna) nas praças centrais da cidade. Até aí nada demais, já que o próprio poeta abolicionista Castro Alves não abria mão de seu brado condoreiro: a praça é do povo! Nele, o autor de “Navio Negreiro” deixa claro que é nos jardins que natureza abraça os mais puros. É por isso que crianças gostam tanto das praças, do velho banco, da banda.

Contudo, por falta de vigilância e fiscalização, jardins públicos afastaram as crianças e as famílias desses momentos lúdicos, de extremo prazer de diversão e de descontração. No lugar das famílias e das crianças vieram os pedintes (e como existem, aos bandos!) com sua agressiva forma de pedir uns trocados àqueles que se encaminham ao santuário ou ao supermercado, vieram os andarilhos com suas decepções e lares desestruturados e à eles se juntaram os desocupados com longas capivaras e fichas criminais à mostra.

As famílias e as crianças não foram mais ouvir a banda, não foram mais comer pipocas e muito menos algodão doce da moça sorridente que os meninos e meninas se simpatizavam. Ficaram com medo – alertados pelos pais e pela mídia – do encontro com o pedófilo (e eles também se misturam nas praças), do sanguinário que comercializa órgãos humanos e trafica pessoas no cenário internacional, dos bandidos à luz do dia, a insegurança, enfim, é geral, já que ninguém tem “estrela” na testa, como diziam.

Não de todo, mas as gestões públicas são culpadas pela atual situação dos jardins. Porque não cuidaram do bem público, abandonaram o patrimônio à própria sorte, as praças se tornaram centros de perdição e – mais do que isso – de comercialização de drogas, favorecendo a prática de ilícitos. O que vemos hoje são logradouros completamente abandonados pelo poder público – sem iluminação, mato alto, pisos esburacados, sem flores, infelizmente sem atrativos para chamar uma criança a sorrir de novo.

A partir do momento que as administrações municipais deixarem de lado algumas prioridades que agradam somente capachos e corriolas de campanha eleitoral e favorecerem – isto sim – a infância desvalida, as crianças órfãs de proteção e carinho, além dos idosos que também perderam sua oportunidade de se sentar nos jardins, de bater-papo com os amigos e de jogar um carteado ao bel-prazer a população estará mais alegre, com subestima suficiente para lutar por seus direitos ao sol.

O que vemos hoje no município são as praças completamente abandonadas, isentas de sua responsabilidade social, funcionando puramente como caça-votos para aqueles que se aproveitam principalmente da inocência infantil e da falta de ligeireza dos mais idosos para cometerem todo tipo de atos irresponsáveis (asquerosos, escabrosos e nojentos). Os jardins precisam de vigilância, fiscalização e de conservação (manutenção) permanente. Enquanto não tivermos esse foco horizontal de visão, nossas crianças não terão onde brincar e os pais estão certos de mantê-las em casa.

Os andarilhos, pedintes e moradores de rua ocuparam as praças porque elas foram abandonadas pelos homens de bem.

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