22 de novembro de 2024
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Artigo: Salvem os Meniscos!

Por: Alessandro Zorzi*

O menisco é uma estrutura anatômica muito importante para a saúde do joelho. Formado por fibrocartilagem, ele promove congruência, estabilidade, absorção de impacto e ajuda na distribuição do líquido sinovial.

Lesões do menisco são a causa mais frequente de cirurgia do joelho. Existem basicamente dois grandes grupos de lesões meniscais: as traumáticas e as degenerativas.

É consenso que as lesões traumáticas devem ser tratadas cirurgicamente, enquanto as degenerativas não requerem cirurgia. Até algumas décadas atrás, a cirurgia para tratar lesões traumáticas do menisco consistia na remoção, chamada Meniscectomia. Com a observação de que estes pacientes meniscectomizados evoluíam invariavelmente para um quadro de osteoartrite precoce do joelho, hoje os tratamentos buscam a preservação dos meniscos.

A principal forma de preservar o menisco é através da sutura. O paciente ideal para sutura do menisco deve ser jovem, com lesão traumática, aguda (menos de três semanas de lesão), longitudinal, instável e na zona periférica vascularizada junto à cápsula articular. Entretanto, tais condições são pouco frequentes na prática clínica. Principalmente porque nos serviços públicos, o paciente normalmente já chega com mais de três semanas no hospital. Além disso, mesmo nestas condições, a chance de insucesso é alta, ao redor de 30%, levando a necessidade de nova cirurgia para remoção de parte do menisco, com grande demora na recuperação do paciente, o que faz com que muitos prefiram a remoção de parte do menisco logo na primeira cirurgia.

Por esta razão, formas de melhorar a cicatrização do menisco através de estímulos biológicos tem sido buscadas e podem aumentar a quantidade de pacientes beneficiados com a sutura meniscal. Por ser uma fibrocartilagem, a cicatrização do menisco é limitada. Somente a parte periférica recebe suprimento sanguíneo adequado, proveniente da cápsula articular. Esta região é chamada de zona vermelha do menisco. Sem sangue não há formação de tecido cicatricial.

Nas lesões com mais de três semanas de evolução ou nas localizadas fora da zona vermelha, uma forma de estimular a cicatrização é fazer perfurações do menisco para a cápsula, tentando fazer o sangramento chegar até a lesão. Este procedimento enfraquece o menisco e tem grande risco de lesionar estruturas neuro-vasculares. Já está bem documentado que pacientes submetidos a reconstrução do ligamento cruzado anterior concomitante com a sutura meniscal têm melhor evolução. Acredita-se que a perfuração dos túneis ósseos necessária para a reconstrução do ligamento promova a entrada de sangue da medula óssea rico em células mesenquimais, o que funcionaria como estímulo biológico.

Recentemente tem sido descrito na literatura pesquisas em animais e estudos clínicos em humanos, com a aplicação de injeção articular de células mesenquimais obtidas de diversas fontes (medula óssea, sinóvia, gordura), com a intenção de estimular a cicatrização das lesões meniscais submetidas a sutura. O problema é que grande parte das células é perdida na articulação por dispersão. Só uma fração irá aderir no local da lesão. Uma forma de contornar este problema é semear as células em uma membrana porosa e suturar esta membrana no ferimento. Esta estratégia também apresenta problemas, porque é necessário ressecar um pedaço do menisco para colocar membrana em seu lugar.

Dr. Alessandro Rozim Zorzi é Graduado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP em 1999; fez residência médica em Ortopedia e Traumatologia na Unicamp; especialista em Cirurgia do Joelho e Doenças Inflamatórias no Hospital de Clínicas da Unicamp, onde também fez mestrado e doutorado em Ciências da Cirurgia; fez curso de Especialização em Pesquisa Clínica PPCR Harvard Medical School e em Ética da Pesquisa com Seres Humanos na Unesco.

É supervisor do Programa de Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; membro relator do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp; médico do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo, onde atuou como Plantonista em Ortopedia de 2007 a 2020 e como Pesquisador Médico de 2017 a 2020; é professor de Medicina na Faculdade São Leopoldo Mandic em Campinas-SP.

É membro: do Comitê de Medicina Regenerativa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT); Comitê Musculoesquelético da Federação Mundial de Hemofilia (WFH); Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ); Sociedad Latinoamericana de Rodilla e Desporto (SLARD), International Society of Arthroscopy, Knee Surgery and Orthopedic Sports Medicine (ISAKOS) e da International Cartilage Regeneration and Joint Preservation Society (ICRS).