20 de dezembro de 2024
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Artigo: A construção de uma sociedade antirracista

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

O dia 20 de novembro sempre foi uma data lembrada em casa. Sim. É o aniversário do meu saudoso pai, todavia este era um dia em que ele procurava manifestar todo o seu apoio à luta contra a discriminação racial. Sua luta pela construção de uma sociedade antirracista começa com a formação dos seus filhos e familiares através de conceitos e frases amplamente debatidos. Era assim que ele nos alimentava. Da história de Zumbi e Dandara, dos antigos quilombos e sua resistência, o racismo secular era debatido, refletido.

Lembro-me que certa vez, mais precisamente no ano de 1992, ao me dirigir a uma das poucas locadoras da minha cidade natal, na época, fui abordado pela dona do estabelecimento que não me deixou retirar a fita desejada, alegando que eu em nada parecia com o meu pai – dono da conta. Insisti mostrando o meu Registro Geral, porém a dona negou e me impediu de assistir ao filme escolhido. Um gesto claro e comum, em uma época em que o racismo desfilava e ficávamos quietos. Na escola não era diferente, comparações, menosprezo sempre estiveram na pauta daqueles discentes que gostavam de mostrar superioridade étnica, e da discriminação dos poucos alunos negros faziam valer sua pseudoautoridade. Havia aqueles professores que reprimiam esse tipo de comportamento, no entanto era normal para muitos docentes que observavam tais atitudes.

Essas e outras situações pelas quais passei (e ainda passo), não são isoladas, pelo contrário, hoje são escancaradas e alimentadas como livre expressão, como se o ser humano tivesse que ser julgado pela cor de sua pele, pela sua origem, condição social etc. Em um país, cujo presidente da República brada contra os quilombolas e o gestor da principal fundação de combate ao racismo é contrário às políticas de combate ao racismo, consequentemente muitos dos nossos cidadãos assim o serão. Nelson Mandela tem uma frase que acaba resumindo estas atitudes nefastas: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Esta atitude de discriminação nasce em casa, é alimentada pela família e ganha adeptos em função dessa corrente que se espalha. Embasada em um pensamento ascendido durante a expansão científica do século XIX, enraizada pelo Determinismo de Taine e difundida através de obras literárias que não aferiram às consequências. Se por um lado tivemos obras que lutaram contra o racismo em nossa sociedade, diversos autores foram contrários ao final da escravidão e continuaram a achar que o negro deveria ser explorado. Apesar de serem grandes autores: José de Alencar e Monteiro Lobato foram racistas, insistiram em sua desumanidade, assim como muitos até hoje carregam esse veneno prontos a lançá-lo em nome da liberdade de expressão.

Em um regime democrático a liberdade de expressão deve ser mantida, todavia jamais se deve tolerar o desrespeito, a hostilidade, prejulgamento, repulsa, prenoção em relação ao seu semelhante. Liberdade é distinta de libertinagem. Portanto, a construção de uma sociedade antirracista inicia-se em casa. Mas, é na escola que esse combate deve ser acentuado. Discussão, proposição de temas polêmicos e que envolvam o preconceito devem ser elencadas. Não podemos levar à sociedade cidadãos sem empatia, altruísmo, conscientes. Precisamos levar ao mundo cidadãos que almejam o bem do próximo, que ao se encontrar com o diferente observe a essência, e não sua exterioridade. Somos capazes de construir essa sociedade e combatermos esse preconceito que se avoluma com Chefes de Estado e sua manada orquestrada. A maldade deve ser combatida com amor, pois eles não sabem o seu significado.

Lutemos pela transformação desta sociedade em uma antirracista.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.