Artigo: Pelo orelhão de ficha
Por: Rodrigo Segantini*
Quem tem vinte anos ou menos talvez não saiba o que é orelhão. Com a popularização dos malditos telefones celulares, os antes telefones públicos populares foram sendo esquecidos, deixados de lado, até de tornarem obsoletos. Porém, tudo faz parte de um complô para capturar nossos corações e mentes, não se enganem!
Com o fim dos orelhões, todos somos obrigados a ter nossos próprios celulares. Uma obrigação que era do Estado, de nos garantir telefones públicos, passou a ser nossa responsabilidade, se quisemos nos comunicar. Pior do que isso: os celulares permitem que sejamos rastreados, já que seu sistema de triangulação e georreferenciamento denuncia cada passo nosso. Pior ainda se for um smartphone, que pode ser hackeado, de modo que nossas vontades sejam desvendadas a partir de nosso histórico de navegação.
Além disso, quem controla quanto de consumimos em nosso celular? A empresa de telefonia, em uma sala secreta? A gente coloca crédito e eles parecem que evaporam! Pagamos contas cujo valor nem sabemos se está certo!
Por isso, defendo a volta do orelhão. Orelhão que é só telefone, para não alienar a mente com aplicativos e joguinhos. Vai lá, liga e fala o que tem que falar e pronto. É para isso que serve um telefone.
E não quero o orelhão de cartão, que pode ser fraudado ou desmagnetizado. Quero a volta do orelhão de ficha. Porque fichas no bolso você conta, estão ali na sua mão. Créditos no cartão telefônico, você nunca sabe quantos tem até consumi-los. Fichas sim são confiáveis!
Vamos aproveitar esse movimento pela volta do voto impresso e nos unirmos para pedirmos também a volta do orelhão de ficha. Chega de nos rendemos a essa ditadura digital que controla nossos passos e pensamentos, os smartphones não nos representam!
Estou procurando quem tenha um mimeógrafo para rodarmos os panfletos de nossa campanha. Afinal, o original no papel stencil e o cheiro de álcool impregnado são o comprovante de meu manifesto, o que nenhuma impressora ou fotocopiadora me garantem sem qualquer indício de fraude. Alguém por aí sabe como me ajudar?
Em tempo: antes que alguém ache que sou favorável à volta do orelhão de ficha realmente, deixo claro que esse texto contém ironia. Em tempos em que voltar ao voto impresso é discutido com seriedade, me parece que esse aviso é quase imprescindível.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!