Artigo: Tornando os custos sustentáveis na pandemia
* Por Fernando Gambôa
O grande consenso da indústria brasileira como um todo é que a pandemia da covid-19 acelerou a digitalização, com adoção massiva de tecnologia, e também aumentou a pressão sobre as margens de lucro das empresas. A grande questão atualmente tem sido como trazer esta margem para um patamar sustentável enquanto se impulsiona o crescimento. Os varejistas estão vendo seus custos subirem na cadeia de suprimentos, no modelo de trabalho, na logística last mile, nos sistemas de tecnologia da informação e nas medidas de saúde e segurança, fundamentais para o conforto dos consumidores.
Para muitos varejistas, novos canais de venda e a entrega são motivos que lideram as pressões do setor. Por isso, eles também têm injetado capital significativo no desenvolvimento, entrega e melhoria dos canais e recursos de que precisam para sobreviver no ambiente atual. Alguns parecem acreditar que esses custos serão de curto prazo, que as necessidades de investimento finalmente diminuirão e as economias de escala terão impacto positivo nas margens. Outros, porém, apontam os níveis atuais de investimento como o novo normal. Nesse sentido, os custos continuarão altos enquanto o mercado continuar a avançar nesta mesma velocidade.
Na verdade, os cálculos realizados pela KPMG internacional sugerem que, de modo geral, se os varejistas esperam aumentar a lucratividade dos negócios nos próximos anos, será necessária uma otimização de custos significativamente maior. As empresas do ramo considerados não essenciais durante o período de lockdowns podem precisar cortar custos em 20% a 50%. Além disso, mesmo aqueles ditos essenciais durante a pandemia precisarão fazer cortes de 10 a 20% em relação aos níveis atuais.
A maioria dos varejistas diria que já estão com o orçamento incrivelmente enxuto. Muitos argumentarão que não há mais espaço para redução. No entanto, há quatro alavancas principais que os executivos do varejo devem examinar mais a fundo. Primeiro, eles devem repensar o portfólio e o sortimento de produtos — especialmente no ambiente físico — buscando oportunidades para refinar a seleção de forma a reduzir as despesas de capital de giro e otimizar as estratégias de preços e promoções. Em segundo lugar, devem reexaminar continuamente o portfólio de imóveis à medida que o mercado evolui e realinhar progressivamente aluguéis para refletir o movimento de clientes e o volume de negócios. Em terceiro, poderiam reavaliar a força de trabalho, identificando onde os empregados desempenham com maior produtividade, além de investir em profissionais alinhados com a nova realidade, tais como cientistas de dados, tecnologias de automação e marketing digital. Isso sem nunca esquecer do treinamento voltado para o digital, necessário para preparar adequadamente o futuro modelo de força de trabalho.
Por fim, os executivos do varejo devem rever orçamentos de investimento, buscando maximizar o valor dos seus ativo atuais e sempre ir onde os investimentos estão fluindo, a fim de obterem melhores retornos. Em suma, historicamente, a parte do corte seria direcionada para a inauguração e reforma de lojas. Aqueles que estão olhando para o futuro agora direcionarão parte desse investimento para a área de tecnologia e logística urbana.
* Fernando Gambôa é sócio líder da área de consumo da KPMG.