Artigo: Ações afirmativas e inclusão LGBTQIA+: um passo no caminho para empresas plurais
Por: Patricia Molino*
Em comemoração ao Mês do Orgulho LGBTQIA+, celebrado em junho, diversas empresas têm investido em homenagens e manifestações de apoio, como forma de reconhecer a influência que as pessoas da comunidade tiveram ao longo da história e chamar atenção para o tema da discriminação e violência, ainda tão presentes na nossa sociedade. O período convida a reflexões e atitudes que possam ir além de ações pontuais, sendo capazes de ampliar e consolidar a inclusão das pessoas LGBTQIA+, aliás de todas as pessoas. Apesar de bem-intencionadas, existe um grupo grande de empresas que ainda não articularam governança, planos e ações e terminam sua colaboração apenas no discurso pontual.
É nítido que a caminhada de um integrante da comunidade LGBTQIA+ é dificultada por inúmeros impasses e obstáculos, mas é inegável que temos empresas muito comprometidas e engajadas, procurando de forma legítima e consistente enfrentar as barreiras e obstáculos que atravessam o direito à segurança física e psicológica, à autoestima e a todos os tipos de recursos, oportunidades e reconhecimentos. Assim, além do protagonismo pessoal, é preciso considerar e aprimorar o acesso que cada pessoa tem a recursos e oportunidades para que possa, então, moldar seu destino.
Ações como a criação de um grupo de afinidade confidencial para pessoas LGBTQIA+ e a formação de uma rede para que haja troca, acolhimento e posicionamento contra ações LGBTIfóbicas – de casos de violência a micro agressões normalizadas – são imprescindíveis para criar um ambiente mais seguro, inclusivo e respeitoso para todas as pessoas – todas, sem exceção. Tais ações afirmativas não devem ser vistas como uma ajuda ou favor, mas sim como instrumento de justiça social, uma vez que são extremamente importantes para acelerar a equidade.
Um ambiente com mais inclusão e diversidade, garantindo o acesso de grupos minorizados a recursos e oportunidades, permite a formação de espaços mais plurais e equitativos, que possibilitam o diálogo e a exposição de pontos de vista distintos, acelerando a transformação que precisamos, como empresa e sociedade.
Um dos maiores desafios, se não o mais impactante deles, é que os grupos não minorizados tomem consciência de seus privilégios e entendam que “estão onde estão” não apenas pelo próprio mérito, mas também por serem quem são, por terem as portas abertas pela sua identidade. Enfrentamos resistência para inclusão pois, apesar de uma questão social, é também uma jornada de conscientização de cada indivíduo. Entender-se a si próprio, aceitar-se imperfeito e finito. Perceber o outro nas semelhanças e diferenças sem juízo de valor, e, sim, oferecendo respeito e empatia.
Quando os estigmas forem quebrados e as pessoas LGBTQIA+ e outros grupos minorizados ocuparem os espaços de forma equitativa, as ações afirmativas não serão mais necessárias. O desafio no mundo corporativo é fazer este caminho de forma consistente, alinhado aos propósitos, valores e estratégias do negócio, para que tenham adesão e sustentabilidade. Entre tantas outras prioridades, se não tivermos todas as pessoas como fim legítimo, nenhum meio valerá a pena.
*Patricia Molino é sócia-líder de People & Change e do Comitê de Inclusão e Diversidade da KPMG no Brasil.