19 de dezembro de 2024
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Artigo: Imbrochável, imorrível e a terra em cima dos corpos

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Fui um assíduo telespectador do programa “Provocações” da TV Cultura, quando apresentado pelo genial Antônio Abujamra. Suas entrevistas foram marcantes, suas indagações vitais, suas narrações textuais hipnotizantes. Abujamra foi um ícone, e uma de suas frases marcou-me: “A vida é tua, estrague-a como quiser”. Num País em que a democracia desfila, convivemos com posicionamentos diversos. Todavia, o exercício analítico, e o altruísmo devem imperar diante de nossas escolhas. Sabemos que somos seres em evolução, assim também em relação ao nosso sistema, aprender sempre é a solução. Portanto, admitam que erraram.

Inspirado pela força da frase acima exposta, uma das muitas do meu querido Abu, estou plenamente convicto que inúmeros brasileiros foram “enganados” nas últimas eleições presidenciais, muitos alimentados por uma aversão aos partidos de Esquerda, como se essa fosse uma justificativa plausível e enriquecedora. Se assim o fizeram, demonstraram toda a imaturidade e ignorância diante da nossa parca análise em relação aos candidatos que disputavam o pleito. Muitas eram as vias. Inúmeros eram os candidatos, muitos com um currículo invejável diante de outros departamentos de nossa República. Porém, a opção por um parlamentar que durante 28 anos esteve no legislativo e nada fez em prol dos cidadãos brasileiros e gabava-se de apenas “comer gente”, é ridícula. E pasmem: essa imagem negativa não foi desenhada pela oposição, e muito menos pela Imprensa que ele não cansa de agredir; muito antes, suas entrevistas em programas sem audiência e durante a sua breve carreira, a insanidade aparecera, sua conduta fora demonstrada. Era um incapaz. Fora expulso do Exército. Acreditaram nesta figura “mitológica” por serem semelhantes àquele que elegeram. Como diz o historiador Leandro Karnal: “A sociedade é semelhante aos governos que elegem”. Fato. Não há como negar. Principalmente no atual momento em que vivemos, convivemos com cidadãos que elevam o negacionismo, disseminam o tratamento precoce contra a covid-19 à base de cloroquina, e carregam suas afirmações como se fosse um mantra. É Bolsonaro 2022.

É muito triste olhar para esse cenário desolador, cujas mais de 465 mil famílias enlutadas pela perda de familiares prosseguem, alimentadas pela esperança e pela mudança. É catastrófico acordarmos com a notícia de que mais um amigo ou familiar partiu, não se despediu, e foi enterrado sem qualquer cerimônia. São assolados pelo frio do inverno que se aproxima, porém, o “iceberg” que incorpora esses ditos cidadãos de bem é muito maior do que aquele que afundou o Titanic. Estamos sendo governados pelo retrocesso, pela ignorância, pelo frio que sustenta a maldade e inspira a mentira. O tempo nos mostra o fracasso dos diabólicos. Contudo, até quando? A sociedade mostra-se indignada, propondo manifestações nesse período pandêmico, sinal de que não aguentam mais. O descontrole econômico, a falta de investimentos sociais, à desatenção aos brasileiros desfavorecidos são pautas emergentes diante da ingerência presidencial. E o atual momento propõe que o Jair Messias desfile pelo País em busca de votos para às eleições de 2022. Atitudes propositais que não respeitam às regras de higiene diante da pandemia. E que inspiram o seu cercadinho.

Esta semana mais uma morte dentro da minha família. Mais uma vítima da covid-19. Uma sensação de vazio, de impotência, de desrespeito para com a vida do ser humano. Infelizmente, enquanto Jair Messias Bolsonaro comandar o País, acreditando ser “imorrível” e “imbrochável” (esse é o assunto do meu próximo artigo), estaremos fadados a contar nossas vítimas. Ele que pregava Deus acima de todos, o que assistimos é terra em cima dos corpos.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

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