22 de novembro de 2024
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Alimentos e bebidas: custo de servir digital

Por: Mauricio Godinho*

Mesmo com o mundo enfrentando a pandemia, o mercado de alimentos e bebidas evoluiu muito, no último ano. Grande parte do varejo alimentar adotou medidas necessárias à proteção dos clientes ao ponto de alguns restaurantes, por exemplo, adotarem de maneira inusitada no Brasil ferramentas tecnológicas avançadas, tais como o uso de robôs para retirar pedidos na mesa e levar a refeição aos clientes. As tendências digitais impostas pela covid-19 já eram observadas desde quando a quarentena teve início. Algumas delas se transformaram em realidade inegável, influenciando atividades de formas alternativas para garantir que alimentos e bebidas cheguem às mãos dos consumidores. Ações como os modelos de entrega direta ao consumidor (DTC, do inglês direct to consumer), última milha, compra on-line e retirada na loja (BOPIS, do inglês Buy Online Pickup in Store) se tornaram cada vez mais comuns neste segmento.]

Com a implementação das medidas restritivas para impedir a disseminação do coronavírus por muitos governos, é possível constatar que o lar se transformou no novo centro de consumo para alimentos e bebidas, mesmo com um possível fim desse período. Além disso, aponta-se uma predisposição para manter o recebimento de produtos pelo modelo de entrega em casa, ao invés da retirada nas lojas físicas. Com relação às plataformas digitais que os consumidores adotaram para realizar pesquisas e consultas de alimentos e bebidas, houve um crescimento na modalidade click-and-collect em que o consumidor consegue escolher como será a retirada, selecionando produtos através de plataformas de comércio eletrônico ou até mesmo por aplicativos de conversa. Dessa forma, existe a possiblidade de ter os alimentos separados e colocados diretamente no porta-malas do carro, garantindo conveniência, atendimento personalizado e maior segurança para aquisição dos itens.

No período de restrições, o conceito de entrega direta ao consumidor se tornou chave para mitigar o impacto da perda de vendas de produtos como bebidas, devido ao fechamento de restaurantes e bares. Esse modelo abriu a possibilidade desses estabelecimentos entregarem mercadorias diretamente aos lares de seus clientes. Outro ponto de destaque que precisa ser mencionado é a adoção de clubes de compras, para os clientes fidelizados, que sempre buscam os mesmos produtos.

Toda essa evolução tecnológica, digital e logística, centrados nas necessidades dos clientes finais, resultou na necessidade de mais investimentos por parte do varejo e indústria com o consequente incremento nos custos de servir. Atrelado a isso, o Brasil passou, no último ano, por um impulso da taxa cambial com desvalorização notável do real. No setor de para alimentos e bebidas, isso acaba sendo revertido em aumento de preços já que grande parte dos insumos utilizados pela indústria é regulada pelo mercado internacional. Nesse cenário, cabe ao setor repensar a estrutura de custos da cadeia de suprimentos, priorizar o portfólio de produtos e marcas, bem como realocar e focar os investimentos para poder equalizar o custo de servir.

Diante disso, ações como transformação digital da cadeia de suprimentos, estratégias last-mile, cooperação para redução de custos de fretes para a logística de distribuição, bem como um processo para melhor alocação de investimentos priorizando-se eficiência e produtividade, passaram a ser chaves para a sobrevivência e crescimento das marcas de alimentos e bebidas que prosperarão neste novo ambiente digital. É preciso ressaltar também que o futuro do segmento está atrelado às novas diversas modalidades e combinações para servir o consumidor cada vez mais conectado, consciente, em busca de conveniência e experiências diferenciadas. Entretanto, isso só será possível para aqueles que conseguirem realizar esse salto tecnológico, repensando e otimizando os custos de servir, cada vez mais digital.

*Mauricio Godinho é sócio-diretor líder de Alimentos de Bebidas da KPMG no Brasil.