Artigo: O país pede respeito
Por: Rodrigo Segantini*
Muitos empresários tem xingado prefeitos e governadores por causa das medidas restritivas de circulação que estariam prejudicando o comércio. Por causa de seus inconformismos, esses empreendedores acabam cerrando fileiras em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que defende que a economia deve seguir seu fluxo, liberada de qualquer arreio.
No entanto, na contramão do que aludem esses que estão empunhando a ideia de que toda a atividade é essencial, que todo mundo precisa trabalhar e que é errado proibir a circulação de pessoas, um grupo com os 500 principais empresários, banqueiros e economistas do país assinaram um documento exigindo providências de Bolsonaro e cumprimentando prefeitos e governadores por terem tomado iniciativas. Na visão destes gigantes da economia nacional, a coisa só não está pior porque gestores municipais e estaduais fizeram sua parte, a despeito do silêncio do presidente da República.
Na carta que remeteram, intitulada apropriadamente de “O País pede respeito”, os responsáveis pelo PIB brasileiro pedem que Jair Bolsonaro faça exatamente o contrário do que tem feito. Elenca e justifica em tópicos que o presidente deve liderar o esforço nacional pela vacinação em massa e em ritmo acelerado, incentivar o uso de máscaras e distribuí-las à população, desestimular aglomerações inclusive com responsabilização de infratores e, por fim, apoiar prefeitos e governadores.
O maior incômodo que me causa esta carta não é o fato de ressaltar que Jair Bolsonaro está fazendo tudo ao contrário do que é recomendado. Também não me incomoda tanto se necessário que lideranças nacionais se levantem para alertá-lo de sua conduta errática e equivocada. O que me perturba é perceber quantas pessoas caem na conversa de Bolsonaro e seu discurso negacionista, que mesmo diante de 300 mil mortos, sabe-se lá Deus quantas evitáveis.
Enquanto o presidente fecha os olhos para a maior crise de saúde que o Brasil já enfrentou e se nega a qualquer providência que possa aliviá-la, resta-nos ficar à mercê do que podem prefeitos e governadores fazer para tentar equilibrar essa equação, cujo resultado deveria ser vida. Você pode ser de direita ou pode ser de esquerda, você só não pode ir contra o que é certo. E o que é certo agora está escrito em uma carta na qual o país pede respeito a seu próprio presidente.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
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