25 de novembro de 2024
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Artigo: Seres humanos de outrora?

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Daqui a alguns dias viveremos um novo ano. Sairemos de 365 dias marcados pela morte, pela doença, pela pandemia, pela fome, pelo desemprego, pelo negacionismo, pela expansão da ignorância e seremos levados para um novo momento, um “novo normal” como bradam os membros difusores das telecomunicações. Talvez alimentem seus discursos de palavras positivas para que os telespectadores sejam hipnotizados e levados à fidelidade televisiva, clássico diante dos manuais das telecomunicações, apurado detalhadamente pela Escola de Frankfurt. De fato, a programação da televisão aberta no Brasil é um “porre”, a verdadeira difusão dos manuais de autoajuda. Palavras decoradas, falas memorizadas e uma avalanche de programas com a intensão de positivar o nosso cotidiano, escondendo assim a realidade (também sou contra os “pinga-sangue”, que ocupam as primeiras horas da manhã da nossa televisão, assim como os crepusculares que se assemelham). E, durante esta pandemia, fomos “acariciados” por pseudopsicólogos apresentadores de tevê, que abriram mão da sua veia jornalística (real) para confundir nossa realidade, apresentando a positividade (sempre) como único elemento porvir. Porém, será que diante de toda essa escalada de ações negativas por parte do ser humano, haverá uma avalanche de ações positivas no próximo ano?

O itabirano Carlos Drummond de Andrade apresenta-nos a “Receita de Ano Novo”. Acompanhemos:

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

 Para que o novo ano se apresente como “novo” há que ser mais humano, exercer-se a razão, ajudar aos semelhantes, acreditar na Ciência, combater o racismo, execrar a violência contra a mulher, punir rigorosamente aos que fazem da homofobia seu troféu machista; lutar contra o desmatamento da Amazônia e Pantanal, salvar os quilombolas e a população indígena, combater à fome, buscar a igualdade social, eleger àqueles que bombardeiam à corrupção, incentivar à Cultura, preservar e equipar o SUS, tornar a Educação uma arma a todos os brasileiros. Caso não se consiga, não haverá um “novo normal”, pois, o ser humano encontrar-se-á idêntico à outrora.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!