22 de novembro de 2024
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Artigo: Desumano!

Prof. Sergio A. Sant’Anna

As últimas notícias, assim como as penúltimas e antepenúltimas mostram-me a necessidade de escrever. Semana passada com o artigo que intitulei “Oxalá”, relatava a necessidade do combate ao racismo em consequência aos números evidenciados pelas mais respeitadas agências estatísticas do País, demonstrando a escancarada discriminação. Esta que acontece em decorrência da origem étnica, ou seja, pelo fato do ser humano ser negro. Poderíamos ter esse assunto concluído caso nossa sociedade fosse mais humana, acreditasse que ao longo de séculos a cor da pele foi e, continua sendo, o principal argumento difusor do racismo. Somos discriminados por sermos considerados negros, por milhões de pessoas acreditarem que somos inferiores devido a cor preta destacando nossa etnia. E mais: foi sim o preconceito dos antepassados que marginalizou a população negra em nosso País. Foi o racismo que isolou o negro nos antigos cortiços; foi o racismo que deixou cada vez mais paupérrima a população negra; foi o racismo que deixou o negro isolado da vida escolar. Não admitir essa mancha sangrenta em nossa história é compactuar com discursos como o do vice-presidente da República, que explana, através de sua vivência estadunidense, a não existência do racismo no Brasil. Um olhar imaturo e segregador daquele que não sofreu as agruras e torturas impostas ao povo negro. Opinião semelhante ao seu presidente, que questiona os quilombolas, através do zombar, admitindo sua ineficiência intelectual e seu coração carregado de fel e preconceito ao lançar piadas infames e argumentos sarcásticos ao falar daqueles que descendem dos seres humanos, cujos homens semelhantes ao Messias Bolsonaro torturam e alimentaram suas famílias com o sangue escorrido pelos chicotes e açoites bradados sem dó no dorso preto.

Diante dos dados históricos, conclui-se que ao longo destes cinco séculos as revoltas acontecidas: Cabanagem, Canudos, Palmares, estas apenas para explicitar a feia verdade que dilacera a construção do Brasil, pintaram-se com as cores dos outros. E por uma questão de inferioridade inventada, difundida pelos rançosos preconceituosos, estes que ousaram se revoltar foram dizimados, reduzidos ao pó. Este um sinônimo hoje almejado por muitos que executam índios, negros, assentados, favelados conclamando o livre exercício da violência em nome de uma Pátria sangrenta que só aumenta a discriminação e conclama os seus a uma guerra injusta e genocida. Execuções acontecidas diante de uma política que atenua a violência ao pintá-la com a miscigenação para depois sim continuar a explorar, matar, dizimar e difundir que tudo está bem, porque somos um País construído à base de diversas etnias, é hipócrita e embasada na perpetuação da desigualdade e do preconceito de maneira consciente. Excluem ao negro, o índio, o favelado, o marginalizado quando o assunto é o usufruto dos bens, lançam a tal de meritocracia como um substantivo válido a todos, e se esquecem que as chances são desiguais, os direitos rabiscados em leis são apagados e a violência, ainda, é o principal exercício argumentativo quando discute-se políticas inclusivas. O negro não participa dessas fatias generosas.

O que aconteceu com o Beto, em Porto Alegre, não é a busca pelo Floyd brasileiro, como ousou vomitar, Eduardo Bolsonaro; é sinal do resultado da política cultuada pelo clã e boiada que dá pasto a esses genocidas; discursos que cada vez mais tornam-se evidentes pois a Justiça é morosa e complacente com os verdadeiros assassinos. Buscam-se justificativas arcaicas para legitimar a morte de um cidadão negro, pífias e amparadas no ataque daqueles que não almejavam que os demais vejam a baba de sua raiva transparecer. Infelizmente, a pobreza, a cor da pele, o lugar onde você mora, o seu grau de estudo, sua religião são sim evidências que segregam, excluem, assassinam e enterram. Não há justiça para estes. E a elite brasileira, um pouco mais de 10% da nossa população cria um cercadinho e expande o pasto, enriquece a ração dando sinais de que o Brasil é para poucos. Aquelas camisetas verde-amarelas, que saíram às ruas há alguns anos deveriam estar marcadas com o sangue dos seus semelhantes e os dizeres de que somos racistas sim. Não há o desejo de ver, apreciar a ascensão dos excluídos.

Portanto, dizer que convive com negros, que a pele preta é linda, que sempre combateu a pobreza fazendo doações, não o exclui do genocídio que você vem alimentando ao dar voz aos racistas que sentaram e lambuzaram de vez a cadeira Executiva e das mãos que ainda continuam a nos chicotear. Cria vergonha na sua cara e admita que você é racista, seu desumano! Não basta dizer que é contrário ao racismo, necessitamos de uma política urgente antirracista.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião de O Defensor!