Descomplicando a Pediatria – cólicas em recém-nascidos e lactentes
Por: Dra. Patrícia Zanin Kamada*
É um tema bastante discutido há muitos e muitos anos.
Envolve toda a família e principalmente a conduta médica. Talvez porque o problema tenha sido subestimado.
Em 3 principais livros textos, temos algumas hipóteses.
➡Pelo livro Instituto da Criança SP, admite-se que as cólicas sejam devido a uma incoordenação do Sistema Nervoso Autônomo ou constituição neuropática ou hipertônico, é que a origem mais frequentemente é a emocional primariamente.
➡O livro editado pela escola Paulista de Medicina, apresenta um enfoque psicanalítico em que as cólicas são desajustes da relação MÃE-BEBÊ, sendo o corpo do bebê mostrando o desconforto causado.
➡No Tratado de Pediatria do Nelson, o autor se posiciona, “NENHUM FATOR ISOLADO, explica sistematicamente as cólicas” e “um
Médico solidário é importante para resolução do problema”!
💡 São oportunas algumas considerações.
O termo cólica se refere a uma dor abdominal
A cólica do lactente se refere ao choro súbito, inexplicado e inconsolável (não responde às medidas habituais de conforto). A cólica típica se manifesta como um ataque paroxístico de choro forte, agudo, estridente, “em crescendo”. O lactente se estica, fica vermelho, vira a cabeça para os lados, as mãos ficam crispadas, as coxas fletidas sobre o abdome; com frequência ocorre a eliminação de gases, que parece trazer um alívio temporário. Com breves pausas, o choro pode se prolongar por horas; o choro é inconsolável, o que traz aos pais sentimentos de frustração e impotência.
Na prática, a cólica é frequentemente caracterizada apenas pelo choro sem motivo aparente.
Acontece que o choro é uma ferramenta, normal e fisiológica, de comunicação, usada pelo lactente nos seus primeiros meses de vida. Achar que existe um limiar a partir do qual o choro normal se transforma em cólica é ignorar o verdadeiro continuam que caracteriza os fenômenos biológicos, sendo que, neste caso, a cólica seria o extremo do
espectro normal da variação do choro . A cólica é um diagnóstico clínico, frequentemente de exclusão, que não se apoia em nenhum dado de exame físico nem laboratorial. Mas os critérios clínicos pouco avançaram nos últimos anos, a tal ponto que os mais utilizados (com pequenas variantes) são os critérios de Wessel, publicados há quase meio século e conhecidos como a “regra dos 3”: duram pelo menos 3 horas, ocorrem pelo menos 3 dias por semana e pelo menos 3 semanas seguidas; desaparecem aos 3 meses de vida. Acresce o curioso fato do choro com “hora certa”, isto é, as cólicas ocorrem num horário predeterminado, geralmente no fim da tarde, início da noite (19-23 horas).
💡💡💡A etiologia da cólica do lactente, que já é conhecida pelos pediatras há mais de um século, continua a representar um enigma. Diferentes causas que podem ser aditivas, mas frequentemente são contraditórias, têm sido aventadas, e estas podem ser divididas em gastrintestinais e não gastrintestinais. A cólica pode ser uma variante normal e estaria relacionada a uma imaturidade fisiológica. É curioso notar que os prematuros têm o mesmo padrão de choro e de cólicas, e que atingem o pico com 6 semanas de idade gestacional, isto é, a mesma dos lactentes a termo.
Temperamento da criança, ansiedade dos pais (que pode ser agravada por inexperiência e falta de apoio), depressão materna, personalidade da mãe, problemas na dinâmica familiar e a possibilidade de sequelas emocionais são aspectos que já foram levantados e apaixonadamente debatidos.
Na esfera gastrintestinal foram levantadas algumas hipóteses cujas respectivas pesquisas não foram conclusivas:
Motilidade intestinal alterada; hiperperistaltismo colônico e pressão retal aumentada. Fala a favor dessa hipótese, a ação efetiva de alguns antiespasmódicos cujos efeitos colaterais, às vezes graves, impedem seu uso terapêutico.
Hormônios intestinais – a motilina, que exagera a peristalse intestinal, parece estar aumentada nos lactentes que sofrem de cólicas.
Excesso de ar intragastrintestinal – a aerofagia poderia ser causa, mas também pode ser consequência do choro. O uso de antiflatulentos, como a simeticona (frequentemente utilizada na prática), não se mostrou mais eficaz que o placebo, em estudo multicêntrico randomizado, o que fala contra essa hipótese.
O excesso de gases também foi atribuído a uma má absorção fisiológica e transitória da lactose, mas as primeiras pesquisas não foram confirmadas.
Tipo de aleitamento – não se verificou diferença significativa entre crianças em aleitamento materno e as que recebem mamadeira, embora um estudo tenha mostrado que o pico da frequência de cólicas era mais precoce nas crianças em aleitamento artificial (duas semanas de vida) do que nas amamentadas (seis semanas de vida).
Na prática pediátrica, os critérios de Wessel podem ser muito úteis para determinar a conduta. Os casos que se enquadram nesses critérios devem receber do pediatra explicação, tranquilizarão e apoio. Os casos que se afastam muito dos critérios devem ser investigados.
Choro contínuo nas duas primeiras semanas de vida levantam a suspeita de fome, inclusive por mamadas ineficientes (controlar o peso). Nos casos associados à regurgitação acentuada e a mamadas nervosas, interrompidas, considerar refluxo gastresofágico, e nas famílias atópicas, em que o lactente apresenta choro acentuado logo após as mamadas, e especialmente se a criança tem outras manifestações alérgicas, pesquisar alergia ao leite de vaca, inclusive nas crianças que mamam leite de peito.
Referências Bibliográficas: Jornal de Pediatria, título Cólicas do Lactente.
Referências bibliográficas
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- Bricks LF. Choro excessivo e cólica em lactentes. Pediatria (São Paulo) 2001;23(4):30
Obrigada
Dra. Patrícia Zanin Kamada – Pediatria
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