22 de novembro de 2024
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Agricultura de SP pesquisa espécie invasora que pode trazer prejuízos à piscicultura

Mexilhão-dourado é tema de iniciativa conjunta entre o Instituto de Pesca e a empresa Bio Bureau Biotecnologia.

Uma parceria entre o Instituto de Pesca (IP), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, e a iniciativa privada busca conhecer a fundo as características de um animal pequeno que pode trazer grandes prejuízos aos piscicultores, o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei).

Esse molusco bivalve de origem asiática tem o potencial de causar uma série de problemas, tanto econômicos quanto ambientais, principalmente para os produtores de peixe em sistema de tanque-rede. Segundo a pesquisadora do IP Daercy Ayroza, as infestações com mexilhão-dourado podem elevar em até 27,25% o custo de produção do pescado devido à necessidade constante da limpeza das telas dos tanques para a retirada dos animais aderidos.

No rastro desse desafio, a parceria entre IP e a empresa Bio Bureau Biotecnologia pode indicar alguns caminhos. Por meio do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT-IP), a interação entre Instituto e empresa tem sido essencial no empenho de ampliar o conhecimento sobre o mexilhão-dourado para, a partir daí, criar estratégias para seu controle.

“A empresa tem financiado projetos nos quais o nosso objetivo é realizar o monitoramento do mexilhão-dourado na coluna d’água de pisciculturas para identificar os períodos de picos reprodutivos e estágios larvais, visando subsidiar estudos e ações de mitigação do impacto dessa bioinvasão. Já a empresa estuda ferramentas genéticas”, elucida Daercy.

Foto: Divulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento

Tratamento

Com o avanço no conhecimento da morfologia e ciclo de vida do animal, novos recursos tecnológicos podem se tornar realidade e trazer um tratamento eficaz para esse problema. “Estamos buscando recursos para desenvolver projeto de P&D em parceria, com a finalidade de testar materiais anti-incrustantes para as telas”, assegura a pesquisadora do IP.

De acordo com a especialista, que publicou recentemente artigo sobre o tema na revista Panorama da Aquicultura, os registros de impactos do mexilhão-dourado remetem à diminuição da abundância e riqueza de espécies do habitat, alteração na ciclagem de nutrientes, crescimento de plantas aquáticas, aumento da transparência da água, danos aos sistemas de captação de água, de refrigeração e filtros de hidrelétricas e incrustação em superfícies submersas de barcos, estruturas de pesca e piscicultura em tanques-rede.

A presença do animal é especialmente preocupante para o produtor de peixes em sistema de tanques-rede, onde espécies de interesse comercial são criadas confinadas dentro de estruturas de redes ou telas, que permitem a troca de água com o ambiente.

Daercy explica que os mexilhões conseguem aderir às redes e formar colônias, que dificultam a passagem da água e tornam pesada a estrutura do tanque-rede. “A incrustação do mexilhão nas telas prejudica a oxigenação e a eliminação dos resíduos dos peixes e restos de ração. Em casos extremos, pode haver o afundamento dos tanques-rede, causado pelo peso das colônias de mexilhão-dourado”, alerta.

Detecção

A pesquisadora do IP explica que o piscicultor normalmente reconhece facilmente o mexilhão-dourado quando este está presente em seus tanques e que deve, assim que possível, passar a aplicar medidas para retirá-lo. “O problema é que atualmente a única indicação para seu controle é que as telas devem ser mantidas limpas, o que, em geral é feito utilizando-se lavadora de alta pressão. Esse procedimento é dispendioso”, afirma.

Segundo a cientista, estão em curso testes com possíveis alternativas de controle, como moluscicidas, telas antiaderentes e escovas mecânicas para a limpeza. “O mexilhão-dourado é um grande problema na piscicultura em tanques-rede porque, em geral, essa atividade é instalada em reservatórios públicos, onde a infestação é facilitada por meio da fixação em embarcações e apetrechos de pesca, nas quais o molusco se agarra e passa a se disseminar”, pontua Daercy.

“Além disso, nos reservatórios é difícil seu controle, pois não pode haver interferência, como o uso de moluscicidas que podem ser prejudiciais ao ambiente aquático e ao homem”, afirma. Para ela, frente a esse cenário, é essencial que sejam tomadas precauções.

*Com informações do Portal do Governo do Estado de São Paulo