Crise testa competências e exige agilidade das administradoras
*Por José Roberto Graiche Júnior
Episódios de crise pelo mundo acontecem com relativa frequência, mas nem sempre e nem todas as pessoas sentem seus impactos. Entretanto, a Covid-19, em evento raro como uma pandemia, pegou a maioria das pessoas de surpresa, confinando milhões do dia para a noite, afetando diretamente a rotina das pessoas e exigindo respostas rápidas de enfrentamento de diversos segmentos da economia e da sociedade.
Sendo a pandemia um problema de alcance global, mas com reflexos domésticos palpáveis, é grande o desafio daqueles que atuam direta e indiretamente na vida de milhões de indivíduos. No dia a dia das administradoras de condomínios, as empresas têm agido rapidamente e num contexto incomum, pois quase diariamente as autoridades públicas e de saúde alternam pronunciamentos e acumulam novas medidas, decretos e posicionamentos para o combate à doença, enquanto determinações anunciadas anteriormente ainda estão sendo implementadas e adequadas aos negócios e aos condomínios.
Em questão de poucos dias, medidas mais rigorosas foram sendo tomadas acompanhando os avanços mais críticos da pandemia. As administradoras de condomínios tiveram de se lançar em novas tarefas, como a elaboração de circulares, cartilhas e orientações sobre os cuidados na prevenção, enquanto elas próprias ajustavam-se ao distanciamento social, readequando suas rotinas e atividades, resguardando funcionários do grupo de risco e fornecendo condições e equipamentos para o trabalho da maioria em home office.
Para que tudo continue funcionando, a bagagem de mercado, a experiência prática e a modernização das administradoras fazem diferença, bem como o caráter de atuar em associação. A Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (AABIC), por exemplo, criou um Comitê de Emergência para orientar suas associadas neste momento de crise. Essa forma de organização é fundamental para qualquer setor, uma vez que possibilita a discussão e criação de iniciativas estruturadas, o compartilhamento de experiências e interesses comuns, imprescindíveis tanto no dia a dia, quanto em momentos de crise, como o atual.
A troca de conhecimento também foi benéfica para as parcerias com síndicos e conselheiros, onde foram tomadas decisões urgentes e necessárias, como cancelamento de assembleias, a gestão de uso dos espaços, a suspensão e o adiamento de obras e reformas nas unidades e áreas comuns, além de criação de regras emergenciais, intensificação da limpeza e melhor controle da portaria.
E se a tecnologia tem ajudado o convívio durante o isolamento social de um modo geral, para a gestão e suporte da vida condominial ela tem um papel substancial. O uso das plataformas e ferramentas virtuais que as administradoras já vinham modernizando está sendo intensificado, auxiliando de forma crucial na comunicação entre moradores, funcionários, síndicos e prestadores de serviços, no esclarecimento e acompanhamento de dúvidas de condôminos, além de diversos serviços e processos automatizados, fundamentais ao funcionamento dos condomínios.
Porém, tão imprescindível quanto a conveniência tecnológica é a possibilidade de poder contar com o componente humano, ainda mais em situações de alta pressão e demanda, no cotidiano complexo da administração condominial. Situações como a orientação aos síndicos, sejam eles moradores ou contratados, os conflitos entre moradores ou as novidades do confinamento, como restrição de circulação e até ações coletivas de solidariedade, acabam demonstrando que as tarefas do setor nem sempre estão centradas em aplicativos.
Nesse cenário da necessidade de bom convívio, ficam mais evidentes as fragilidades de plataformas e startups de administração imobiliária que se autodenominam “100% digitais”. Sem possuir uma consultoria com bagagem e conhecimento técnico suficientes, que garantam reconhecimento no mercado, e sem intermediação humana nas negociações e no relacionamento com os empreendimentos, dificilmente as startups conseguem atender à demanda complexa de administração de um condomínio, sobretudo, nesse período de isolamento social, que pode ser imposto com ainda mais rigor pelas autoridades para conter o avanço da Covid-19.
Infelizmente, algumas empresas recém-criadas podem vir envoltas numa atraente capa de inovação, mas faltam a elas experiência e maturidade necessárias para conduzir as relações entre empresas, condomínios e moradores e ainda contribuir com o intercâmbio real de aplicações e soluções práticas e eficientes.
A crise causada pelo novo Coronavírus ainda não demonstra sinais de acabar, mas existem muitas atividades e profissionais trabalhando para que outras pessoas tenham menos riscos de contágio. Para as administradoras de condomínios, principalmente as ligadas à entidade de classe, é um momento de reconhecimento de todo o setor, por todas as decisões e orientações que impactam diretamente sobre aqueles que estão em seus empreendimentos no período de isolamento. Com certeza, é uma dedicação que valerá como aprimoramento e aprendizado para o mercado, os condomínios e seu funcionamento.
*Presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC)
Sobre a AABIC
A Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC) é uma entidade com 41 anos de atuação na formação qualitativa do mercado de administração e locação de imóveis. Conta com 90 empresas associadas, que administram atualmente 16 mil condomínios e mais de 60 mil imóveis locados, onde vivem cerca de 5,1 milhões de pessoas. As associadas da AABIC são responsáveis pelo emprego de 115 mil pessoas no setor, contabilizando os funcionários de operação nas empresas até o contingente de colaboradores contratados para executar as rotinas dos condomínios. Fundada em 1978, a AABIC busca cumprir com excelência e rigor sua principal missão: orientar a administração de bens imóveis e condomínios em suas atividades. Com gestão voltada para o aperfeiçoamento contínuo da qualidade dos serviços de orientação e treinamento, a associação trabalha pela valorização do segmento no mercado imobiliário.