Fapesp promove iniciativas para ampliar a produtividade no campo
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo apoia pesquisas sobre biotecnologia e mudanças climáticas.
A biotecnologia e os desafios da agricultura frente às mudanças no clima são temas frequentemente debatidos por especialistas para elevar a produtividade no campo e suavizar os efeitos das alterações no meio ambiente. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, promove ações nessa área, de modo a combater, por exemplo, os efeitos das secas severas, que atingem diversas culturas agrícolas usadas para alimentação e produção de bioenergia.
Em um projeto conduzido no Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC), Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela Fapesp e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisadores identificaram fungos e bactérias que favorecem o crescimento da cana-de-açúcar e, posteriormente, inocularam esses microrganismos em culturas de milho.
O experimento resultou em plantas com maior tolerância à escassez de água e em um aumento da biomassa de até três vezes. “O milho cultivado com microrganismos que habitam a cana demorou para começar a sofrer com a seca e se recuperou mais rapidamente após sofrer estresse hídrico”, ressaltou o geneticista Paulo Arruda, coordenador do centro, durante o workshop Biotechnologies for efficient and improved production of food crops and bioenergy, realizado na Fapesp em novembro de 2019.
Testes
Segundo o pesquisador, os experimentos indicam que fungos e bactérias são de fato capazes de mudar a fisiologia das plantas. Eles podem, por exemplo, diminuir a temperatura das folhas em até 4º C, auxiliando o vegetal a controlar o consumo de água.
Em um teste feito no interior da Bahia, em uma região conhecida por longos períodos sem chuva, os pesquisadores observaram que os microrganismos também atuaram contra a doença conhecida como enfezamento do milho, que reduz a produção de espigas.
A equipe do GCCRC trabalha atualmente no sequenciamento do genoma desse grupo formado por cerca de 25 mil bactérias e 10 mil fungos a fim de entender como agem nas plantas. A enorme quantidade de dados é analisada com a ajuda de inteligência artificial.
“Algoritmos fazem o trabalho de mapear padrões genéticos relacionados a funções metabólicas dos microrganismos”, disse Paulo Arruda, que destacou a importância dos bancos de microrganismos para a pesquisa genética e o desenvolvimento de inoculantes que sirvam como alternativa aos fertilizantes químicos.
Colaborações
Organizado conjuntamente pela Fapesp e pela Japan Science and Technology Agency (JST), o workshop reuniu cientistas de São Paulo e do Japão que se dedicam a pesquisas em biotecnologia de plantas, com o objetivo de estimular novas colaborações.
Para a bióloga Marie-Anne Van Sluys, professora do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) e uma das organizadoras do evento, o encontro foi uma oportunidade para que os japoneses tivessem contato com a pesquisa realizada pelos paulistas.
A Fapesp e a JST têm interesse em promover novas parcerias de pesquisa por meio, por exemplo, de uma chamada conjunta. Isso seria possível no âmbito de um dos programas internacionais da JST, o SICORP (acrônimo para Strategic International Collaborative Research Program).
“Na modalidade SICORP, as duas instituições elegem um tema de pesquisa de interesse comum e destinam recursos para projetos selecionados pelos pares”, salientou Makie Kokubun, gerente de programas da JST.
Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fapesp, lembrou o acordo de cooperação assinado pelas agências em 2014. “O diálogo entre a Fapesp e a JST já dura cinco anos e busca promover iniciativas de colaboração científica e tecnológica em áreas prioritárias, entre elas biotecnologia”, afirmou.
A experiência brasileira na pesquisa genômica aplicada à agricultura e o potencial tecnológico desenvolvido pelos japoneses podem render colaborações mais maduras, capazes de gerar conhecimento e inovações de ponta, nas palavras da bióloga Anete Pereira de Souza, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), instalado na Unicamp.
“Novas técnicas de sequenciamento genético têm sido desenvolvidas no Japão e isso certamente nos interessa”, disse. “Estamos aptos a fazer parcerias de alto nível com laboratórios japoneses competitivos, como o Instituto Riken”, completou.
*Com informações do Portal do Governo