22 de novembro de 2024
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Artigo: Educação e prazer

Por: Walber Gonçalves de Souza

Frequentemente ouvimos que o processo educacional deve ser algo prazeroso, que o ato de aprender deve acontecer em sintonia perfeita com o prazer. Com isso passamos a acreditar e defender que as aulas devem ser movidas primeiramente pela sensação do bem-estar, do prazer.

Assim, pelo que se manifesta nos corredores das escolas, entre as famílias e a sociedade é que só se torna válido e aceito se as práticas didático-pedagógicas alcançarem a plenitude da satisfação que só o prazer consegue proporcionar. Mas seria justo e coerente pensar e agir dessa forma? O que na vida funciona assim?

Pensemos numa festa, numa comemoração de fim de ano, aniversário ou qualquer outro tipo de encontro entre amigos. Para ficar bacana e agradável primeiramente devemos nos dar o trabalho de preparar tudo com muito zelo e carinho, o que nem sempre é prazeroso. O pós festa requer mais trabalho, que geralmente resume-se na faxina, que também não é nada prazeroso. Todavia, a alegria e o prazer que a festa proporciona supera seus percalços e trabalhos.

Até mesmo o almoço de domingo em família, depois da bonança, das conversas e gargalhadas, das discussões políticas, na maioria das vezes acaloradas, sempre sobra os afazeres da cozinha, a limpeza e demais trabalhos ao anfitrião.

A prática de qualquer esporte também se encaixa nesta reflexão. Geralmente o corpo fica dolorido por algumas horas ou até mesmo dias, às vezes esgotado fisicamente, mas mesmo assim, para quem gosta vale a pena.

Fazer o que gostamos é algo sensacional, que bom seria se tudo aquilo que fizéssemos fosse movido pela sensação do prazer. Seria maravilhoso, mas sabemos que não é assim que funciona na realidade. Como tudo na vida, para alcançar o que queremos às vezes é preciso fazer o necessário; e o necessário nem sempre é prazeroso num primeiro momento. O que é necessário, portanto, o que precisa ser feito em muitos casos é o que causa o prazer.

Enquanto a educação viver envolta dessa falácia nossos estudantes nunca vão querer fazer o que é preciso, mas sim, ficar se escondendo na busca do inatingível prazer. É preciso ter em mente que a educação como qualquer outra atividade humana também se baseia em práticas que proporcionam prazer, mas da mesma forma, envolvem práticas que são necessárias e precisas e que não devemos por isso menospreza-las e tão pouco fugir delas.

O ato de aprender não significa fazer somente aquilo que se quer, da forma que se quer, do jeito que se quer. A educação exige disciplina, horas de dedicação, vontade, zelo, renúncia, privação e prazer. Temos que acreditar que fazer o necessário caminha junto com momentos de prazer. Um não substitui o outro.

O prazer não pode ser uma busca cega e imprudente. Como diria o filósofo Epicuro até mesmo o prazer deve ser almejado de forma racional, caso contrário, pode causar dor e sofrimento.  Talvez aí esteja um dos motivos do insucesso da nossa educação.

 

*Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.