22 de novembro de 2024
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Estudo: estresse de humanos contagia os cães

A personalidade do dono afeta as concentrações do cortisol no cachorro.

Pense no seu cãozinho de estimação quando estiver se sentindo estressado. Não que ele vá necessariamente aliviar sua rotina, mas porque ele pode estar sofrendo tanto quanto você.

Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Linköping, na Suécia, constatou que donos de animais de estimação estressados “passam” esse estado para seus cães. A pesquisa acaba de ser publicada pelo periódico Scientific Reports.

A descoberta baseou-se em análise da presença de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, no organismo das pessoas e de seus pets. “Cães e seus donos sincronizam seus níveis de estresse a longo prazo”, resume a bióloga Lina Roth, uma das autores da pesquisa.

Sim, parece que mais um efeito colateral do milenar processo de domesticação dos cães, levando-os a se tornarem seres dependentes dos humanos, foi isso: o bicho acabou também descobrindo o que é estresse.

“Não encontramos nenhum grande efeito da personalidade do cão no estresse de longo prazo. A personalidade do dono, por outro lado, teve forte efeito. Isso nos leva a concluir que o cão espelha o estresse de seu dono”, afirma Roth.

Pesquisa – O estudo analisou 58 cães – 25 da raça border collie e 33 pastores de shetland – e suas donas – todas mulheres. “Cortamos amostras de cabelo das proprietárias e dos pelos de seus cães em duas ocasiões diferentes. E analisamos a concentração de cortisol”, explica Roth.

“À medida que o pelo cresce, o cortisol da corrente sanguínea é gradualmente incorporado. Isso forma uma espécie de calendário retrospectivo dos níveis de cortisol. Portanto, a partir de amostras de cabelo, conseguimos analisar os níveis de estresse ao longo de meses.”

A bióloga conta que as proprietárias dos cães também foram convidadas a responder um longo questionário com perguntas da personalidade – tanto delas, quanto de seus cães.

Como já havia sido demonstrando por estudos anteriores que indivíduos da mesma espécie podem espelhar estados emocionais uns dos outros – por exemplo, crianças que incorporam a personalidade estressada de seus pais -, os pesquisadores queriam descobrir se o mesmo ocorria com animais com os quais humanos têm forte relação.

“Descobrimos que os níveis de cortisol a longo prazo no cão e em seu dono foram sincronizados, de modo que os proprietários com altos níveis de cortisol têm cães com altos níveis de cortisol, enquanto os proprietários com baixos níveis de cortisol têm cães com baixos níveis”, comenta a bióloga e etóloga Ann-Sofie Sundman, também autora do estudo.

Como a atividade física também pode aumentar o nível de cortisol em humanos, havia a suspeita de que o mesmo pudesse interferir no efeito analisado nos cães. Então, foram selecionados cães mais sedentários – aqueles que servem apenas como companhia – e outros que competem em provas de agilidade e corrida.

As atividades físicas desempenhadas pelos cães durante o período da pesquisa também foram monitoradas. Concluiu-se que a atividade física dos cães não afeta os níveis de cortisol. Por outro lado, concluiu-se que os cães competidores parecem estar mais sincronizados com seus donos. Especula-se que isso seja resultado de maior interação – em treinamentos e competições.

Os pesquisadores acreditam que sejam necessários novos estudos para compreender melhor as explicações dessa relação, bem como se o mesmo pode ser aplicado a outras raças ou mesmo a animais de estimação de outras espécies.

Fonte: BBC Brasil