23 de novembro de 2024
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Artigo: O Diabo vestiu ‘verde e amarelo’

Universidades são redutos de vagabundos fantasiados de estudantes, algumas são “improdutivas” e outros delírios viraram divagações de truões alegres de Facebook…

Por: Gustavo Girotto*

Roberto Campos, o avô, dizia: “O Brasil tem três saídas: Guarulhos, Galeão e o Liberalismo”. A questão prática é que – nem na esquerda ou direita -, representada pelo atual (ainda) presidente Jair Bolsonaro – esse ‘liberalismo’ defendido como o salvador do caos – faz sentido. Ambos veneram mais Brasília, menos Brasil. Nos bastidores há uma épica guerra entre supostos amigos de infância. Militares, olavianos e liberais não se entendem mais e, o resultado, é o pior possível: a economia estagnou.

O Banco Central do Brasil divulgou no último dia 15 de maio a variação do IBC-Br referente ao mês de março de 2019. O indicador apresentou uma queda de 0,28% em março na comparação com fevereiro do corrente ano. No primeiro trimestre de 2019, a queda foi de 0,68% na comparação com o último trimestre de 2018. Tudo indica, portanto, que o PIB do primeiro trimestre irá apresentar uma contração na comparação com o último trimestre de 2018. Inflação e recessão já estão no radar, em miúdos, a rua não perdoa essa fórmula – até de mais fácil compreensão do que a H2O. Questão de tempo.

A gélida realidade, atualmente, é crescimento menor que 1%. A incompetência do governo já destruiu 2,5% do PIB. E não vai parar por aí, vocacionalmente, são funestos incansáveis. A Reforma da Previdência deve vir, não há dúvidas, mas com grande atraso e desidratada. O centrão dá sinais óbvios de abandono do barco.

A capenga comunicação, em grande parte, é a responsável por essa tempestade perfeita que se forma no horizonte. O governo só acumulou recuos ao longo de seus cem primeiros dias e ouviu mais os conselhos desastrosos do lunático da Virgínia – do que sua necessária razão. Idas e vindas que sinalizam improvisos, falta de planejamento do presidente e de seu corpo ministerial.

Os contingenciamentos na Educação e o ataque às universidades federais soam como vingança ideológica e, o resultado, é uma derrota avassaladora nas ruas. Universidades são redutos de vagabundos fantasiados de estudantes, algumas são “improdutivas” e outros delírios viraram divagações de truões alegres de Facebook para tentar amainar os absurdos. Se transborda moralismo, o mesmo tom derrapa contra milhares de pendurados de confiança do setor público.

Na pequena Taquaritinga, interior de São Paulo, não há dúvidas que a subtração de incentivos fiscais implicará em sérios problemas. Apoiar movimentos desta natureza, além de tragédia anunciada é despautério.

A transparência de argumentos, como o diabo da cruz, também foge quando o assunto é a evolução patrimonial do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que cresceu 397,1% entre 2006 e 2018, intervalo de 12 anos em que o filho do presidente Jair Bolsonaro exerceu três de seus quatro mandatos como deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Nenhuma mísera vírgula sobre a compra de imóveis, trocas de carros por modelos mais novos e investimentos em empreendimentos próprios acompanham esse moralismo da timeline.

E por falar nele, o esgotamento do ciclo moralista, que tende a perder a consciência com as denúncias do filho do presidente – acompanha essa lógica perversa. Querem mudar ‘o mecanismo’ (em alta no Netflix), mas não compreendem esse espelho de uma sociedade que caminha a passos largos em direção da manutenção do retrocesso. Apoiam cegamente um governo que não persegue um ponto de equilíbrio – se fia nos exageros das redes sociais -, e esquece que metade dos seus seguidores são fantasmas (robôs).

O ponto de reflexão é que agora o diabo vestiu “verde e amarelo”. Aliás, o tinhoso sedutor o fez guardar a panela, brincar de arminha com mão e acreditar que livro é menos importante. Os dados já sinalizam que o “olho” estava equivocado e, na reunião dos paladinos confrades da moralidade, o espumante da comemoração esquentou e os ‘appetizers’ deram afitamento. Nem tudo ainda está perdido, mas os portais tenebrosos do inferno estão se abrindo mais rápido do que se imaginava…Quem vai entrar correndo no dia 26?

*Gustavo Girotto é jornalista.