Análise: USP divulga estudo realizado sobre os tremores em Jurupema
Caso assemelha-se aos movimentos ocorridos em Andes, no distrito de Bebedouro, entre 2005 e 2010.
Nesta última semana, foi divulgado o Relatório Técnico 3, realizado sob a orientação do Prof. Marcelo Assumpção, do Centro de Sismologia da USP, acerca dos estudos sobre os tremores de terra no distrito de Jurupema.
A pesquisa segue desde 2016, quando ocorreu a primeira série de tremores relatados pela população. Neste período, foram instaladas estações sismográficas em oito locais diferentes do distrito e registrados centenas de pequenas movimentações locais.
Os epicentros dos eventos localizam-se, principalmente, na parte leste e nordeste de Jurupema. O estudo mostra ainda uma clara tendência das trepidações ocorrerem de 1 a 2 meses após o pico da estação das chuvas.
A forte evidência é de que os tremores tenham sido causados pela perfuração de novos poços, depois de 2014, ao conectarem o aquífero raso superficial (camada de arenito) com o aquífero fraturado profundo (confinado no pacote de rochas basálticas).
A explicação envolvendo os poços gera várias questões. A primeira é que poços profundos explorando aquíferos confinados no basalto são extremamente comuns (na casa dos milhares no estado de São Paulo), mas raramente provocam tremores. A pressão adicional da água infiltrada no aquífero inferior é muito pequena, o que significa que apenas provocaria tremores nos raros casos em que as pressões geológicas já fossem bem altas e muito próximas do ponto crítico. A água adicional seria “a gota d’água” que faltava.
Outra questão importante é saber se poderão ocorrer outros tremores mais fortes ainda, ou até quando a atividade vai continuar. Infelizmente não é possível prever a ocorrência de tremores ou terremotos e, portanto, não há como ser afirmativo nesta questão. Porém,alguns fatores podem ser levados em conta para um diagnóstico dos cenários mais prováveis.
O caso do distrito taquaritinguense é muito semelhante ao caso dos tremores no distrito de Andes, em Bebedouro, ocorridos entre 2005 e 2010. Em Bebedouro, por exemplo, os ciclos anuais de sismicidade variaram em intensidade e número de tremores, mas tinham uma tendência geral de diminuição.
Embora não se possa afirmar com segurança, é possível que os ciclos anuais continuem por mais alguns poucos anos, diminuindo em intensidade e número de abalos com o passar do tempo. Algumas reativações mais fortes não estão descartadas. A água adicional que continua entrando no aquífero confinado pode levar anos para se difundir a distâncias maiores. Quando esta pressão adicional encontrar áreas onde as tensões geológicas estão altas, novos surtos de sismicidade podem ocorrer.
Finalmente, como não foi possível monitorar a atividade de cada poço profundo, não é possível saber qual (ou quais) dos poços perfurados em 2015 foi o responsável pelo desencadeamento dos tremores. Provavelmente mais de um poço pode ter contribuído para causar os surtos.
Vale dizer que a USP deve continuar com os estudos sismológicos até pelo menos 2020. Alguns outros levantamentos geofísicos serão realizados para se estimar as profundidades das camadas de arenito e basalto no distrito e melhorar a precisão de localização dos sismos e suas profundidades.
Estudos da orientação das fraturas que geram os tremores estão em andamento.