Alerta: E se fosse aqui, estaríamos preparados?
Era segunda-feira, por volta de 18h30, em Paris, quando a Catedral de Notre-Dame começou a arder em chamas. Aparentemente iniciado no sótão, o incêndio consumiu parte da construção de quase 900 anos, que só não sucumbiu por completo porque os Bombeiros foram ágeis e atuaram com toda força durante 9 horas para evitar um desastre ainda maior. A flecha, como era conhecido o pináculo central da construção, veio abaixo com o calor das chamas. Parte da abóbada cedeu e o telhado queimou quase por completo. Por sorte, diversos itens puderam ser salvos, uns porque haviam sido removidos em razão das obras de restauração que estavam em andamento, outros porque uma Obra Divina os livrou das chamas.
Construída no estilo gótico a partir de 1163, Notre-Dame de Paris é dedicada à Virgem Maria, mãe de Jesus, e situa-se na Île de la Cité, em Paris, rodeada pelas águas do rio Sena. Sua construção seguiu até 1345 e desde então passou por diversas alterações, reformas e restaurações. A última fora iniciada ao final de 2018 e visava a manutenção do telhado da catedral, justamente onde estima-se que o incêndio se iniciou.
Diante desta tragédia que abalou os parisienses e comoveu o mundo, uma questão surgiu dentro da redação de O Defensor: E se fosse a Matriz de São Sebastião, estaríamos preparados?
Taquaritinga possui um conjunto arquitetônico bastante relevante, sendo a maioria das construções do séc XIX e XX. Os santuários católicos mais importantes (tanto por sua história quanto pela sua arquitetura) são o Santuário de Nossa Senhora Aparecida e a Matriz de São Sebastião. Esta última, construída entre 1930 e 1950, foi erguida aproveitando-se dos elementos do estilo gótico, o mesmo da Catedral de Notre-Dame, ou seja, grandes naves centrais, espaços amplos e vitrais imponentes. Comparando-se o tamanho das duas construções, nossa Matriz de São Sebastião possui cerca de um terço do tamanho da Catedral de Notre-Dame, o que não a diminui quanto à sua grandeza e beleza. Os adornos produzidos por artistas locais, especialmente pelo artista plástico Ricardo de Lucca, embelezam sua fachada, e espaços internos. As grandes pinturas nas paredes laterais foram de autoria do casal de húngaros, Americo Makk e Eva Holusa Makk. Além dos aspectos construtivos e das obras que a compõe, a Matriz de São Sebastião possui inúmeros elementos sacros, imagens e peças que fazem parte da história da paróquia e da Cidade.
Segundo padre José Sidney Gouvêa Lima, responsável pela Paróquia de São Sebastião, “há um consenso na Igreja que a história deve ser preservada e perpetuada. Por este motivo, um dos trabalhos desenvolvidos consiste, justamente, em manter na maior ordem possível nossas igrejas, prevenindo situações críticas”. Entretanto, o pároco ressalta as dificuldades encontradas no dia-a-dia, uma vez que os recursos são escassos e há a necessidade da definição de uma ordem de prioridade. “Nossas receitas provém basicamente das coletas, do dízimo e das festas que realizamos junto da comunidade. É por isso que, muitas vezes, as obras e reparos não ocorrem no tempo que gostaríamos que ocorresse”.
Erguida numa época em que haviam poucas obrigações quanto à prevenção e combate a incêndios, a Paróquia de São Sebastião se vê na obrigação de implantar esses pontos em sua Matriz. Soma-se a isso a necessidade de reparos estruturais, pois algumas trincas persistem mesmo após as intervenções ocorridas ao longo dos anos. Essa restauração necessária passa pela revisão completa das instalações elétricas e hidráulicas e demais reparos que visem manter a estabilidade da construção. A boa notícia é que, seguindo orientação da Diocese de Jaboticabal, a Paróquia estuda com cuidado todas as intervenções necessárias e projeta esta nova etapa de restauração.
O projeto de preservação visa catalogar todos os itens pertencentes à paróquia, que vão desde as peças sacras, mobiliários e imagens, ato que já encontra-se em andamento, bem como uma obra de restauração na própria Matriz, que envolverá um trabalho meticuloso de recomposição dos aspectos arquitetônicos existentes e reparos estruturais necessários. Este último item depende da conclusão das obras na Igreja de São Benedito e da finalização do projeto de reparos e restauração do Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
O 1° sargento Renato Corbi, comandante do Corpo de Bombeiros de Taquaritinga, esclarece que realiza ações no sentido de fiscalização dos estabelecimentos religiosos e que busca, juntamente com o soldado Elizandro Aparecido de Souza Branco, orientar os responsáveis pelos locais, quanto à necessidade de regularização dos espaços públicos. Em Taquaritinga, ressalta o soldado. Branco, por uma questão cultural, é comum deixar para um segundo momento as questões relacionadas à segurança das edificações.
O comandante ressalta que, independentemente das ações de fiscalização, a corporação está de prontidão e atuará em caso de qualquer necessidade. Questionado, especificamente, sobre a Matriz de São Sebastião, citada nesta reportagem, o comando ressalta que a equipe possui plano de ação estabelecido para combate a incêndios e que atuará na preservação da vida e do patrimônio, se necessário. “Nós temos uma equipe altamente treinada, equipamentos e veículos para atuar prontamente em caso de necessidade”, ressalta o soldado Branco.
Questionado sobre a possibilidade de tombamento da Matriz como um patrimônio material, padre. Sidney explica que a situação precisa ser estudada em seus detalhes, uma vez que o tombamento implica em uma série de obrigações e regramentos que poderiam inviabilizar qualquer manutenção na edificação, e cita o caso de algumas igrejas de Minas Gerais: “Com o tombamento, o governo deveria investir no processo de restauração das igrejas barrocas. Com pouca verba, os projetos de conservação das construções ficam relegadas a um plano secundário. Como já estão com a estrutura deteriorada por anos de descaso, as construções sucumbem”. O pároco salienta ainda que “apesar de nunca nos ter sido negado nada no âmbito governamental, a igreja tem ciência das dificuldades que os gestores enfrentam quando o assunto é verba para restauração, por isso contamos com meios oferecidos pela comunidade católica. A Matriz é um patrimônio de Taquaritinga, é o cartão postal da cidade. É dever de todos preservá-la”.