22 de novembro de 2024
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Artigo: Brasil: colecionador de tragédias

Por: Walber Gonçalves de Souza*

Qual será a próxima desagradável surpresa? Quais serão as intermináveis desculpas? Quando teremos a coragem, como nação, de reconhecer nossos erros e admitir que precisamos rever nossas posturas? São perguntas aparentemente sem respostas, mas que incomodam a quem tem um pouquinho de sensibilidade humana.

Só para recordar as mais recentes, lembremos do incêndio na boate, viadutos que caíram, barragens que simplesmente desabaram, incêndios em alojamentos de atletas e em bairros de periferia, acidentes aéreos e clima de guerra civil em alguns estados. Entretanto, podemos perceber em todas estas tragédias uma característica em comum: o fim da vida de inúmeras pessoas e as lágrimas de tantos outras que guardam a saudade no peito e o sentimento amargo da impunidade.

O grande desafio é: até que ponto os acidentes, as tragédias já mencionadas, foram realmente acidentes ou poderiam integrar a interminável lista que é endossada pelo jeitinho brasileiro de ser? Será que estes acidentes não haviam sido evitados se o nosso país fosse governado por gente séria, honesta? Será que estes acidentes não haviam sido evitados se no nosso país os profissionais pudessem de fato exercer suas profissões sem ter que se curvar aos aparatos da corrupção? Será que estes acidentes não haviam sido evitados se tivéssemos, minimamente, um pouco de preocupação para com a vida alheia? Novamente deixo mais perguntas, mas com certeza estas serão mais fáceis de chegar a uma resposta. Infelizmente!

O Brasil se tornou um país colecionador de tragédias, pois tudo conspira para tal. Nossas leis geram a impunidade ou acabam de certa forma colaborando com ela; nosso povo só se mexe quando o problema é com ele; pelo visto nada melhor que uma nova tragédia para esquecermos a outra que ocorreu; e assim vamos tocando a vida, alimentando o sistema acreditando que estamos fora dele, como diria o famoso “Capitão Nascimento” no filme “Tropa de Elite”.

Por isso, devemos buscar quem são os culpados e puni-los, praticar a justiça é sempre o melhor caminho, bem como ir nas raízes dos problemas e conserta-los para que não se repitam. Situação tão comum no nosso país: ver problemas se repetindo.

Muita coisa no Brasil poderia ser diferente se fôssemos uma nação mais comprometida em fazer as coisas de forma correta, séria, justa e também mais próxima da qualidade. Seríamos diferentes se aprendêssemos com os erros. Seríamos diferentes se acreditássemos que os “acidentes” podem e devem ser evitados, basta apenas que as devidas medidas sejam tomadas.

Pagamos alto pelo nosso jeitinho de ser; pela nossa forma desumana e que só pensa em levar vantagem em tudo; pelo relapso social que insistimos em perpetuar. Não nos iludamos, sem mudanças eficazes, as tragédias continuarão atormentando nossas vidas.

* Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor / [email protected]