1 de novembro de 2024
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Nossa Palavra – E a culpa é de quem?

Já faz tempo que, por conta de crises e saltimbancos, rádios e jornais levam sempre uma chicotada dos políticos de plantão. Tenham ou não culpa no cartório, jornalistas e repórteres são os primeiros a serem condenados ao fogo do inferno pelos que nos governam. Sofremos no purgatório, muitas vezes, pela incapacidade de administradores inaptos para tal cargo afim.

O primeiro ato desses políticos é, invariavelmente, mostrar ao povo que a imprensa mais atrapalha do que ajuda e que só serve para reclamar, o que não é verdade. A imprensa, como quarto poder, tem a missão precípua de apresentar os problemas como um todo, ser a voz dos que não a tem. Não pode, isto sim, tomar partido ou gosto político. Assim é que funciona.

Foi com inenarrável surpresa, portanto, que ouvimos em seu programa de sábado na emissora de sua propriedade, o prefeito Vanderlei José Mársico uma vez mais detonar a imprensa (o seu principal alvo foi a EPTV Ribeirão e uma rádio da Cidade, ele não disse qual) ao falar que a população não deveria reclamar à imprensa, pois ela “não resolve absolutamente nada”.

Causou espécie, inclusive entre os cidadãos (não se fala “cidadões”, para não assassinar a gramática), a declaração abrupta do chefe do Executivo de que tentam engessar as atividades da Prefeitura Municipal ou buscam pautar o que deve ou não deve o prefeito fazer no município. Ora, leitoras e leitores, não é crível que repórteres e jornalistas tenham esse poder absoluto na real.

O chefe do Executivo crê enfaticamente que aqueles que o criticam hoje são os mesmos que perderam as “boquinhas” e os privilégios que possuíam nos outros governos anteriores e que foram decepados pela administração atual. Ele também condena os partidos radicais que “vivem” colocando empecilhos dentro do governo municipal.

Vanderlei Mársico tem todo direito de retrucar opiniões diferentes, pois é na síntese que se formam as teses e antíteses do povo. Mas tem que, obrigatoriamente, pelo menos escutar e ouvir esse mesmo povo. E é essa, justamente, a principal reivindicação da população quanto a atual gestão em Taquaritinga: moradores não são ouvidos quanto às primeiras decisões.

Como num passe de mágica, o Poder Executivo, utilizando uma fictícia varinha de condão, programa e edita atos e decretos sem uma consulta prévia aos cidadãos (observe o Português correto!) que ficam ao deus-dará. Não é assim, contudo, que haveremos de amadurecer nosso sonho de democracia fermentado há anos. Há que se escutar, ouvir e até dialogar.

Ao criticar a imprensa intempestivamente, contudo, o prefeito da Cidade dá mostras que quer governar sozinho, não aceita conselhos e muito menos sugestões. Ao contrário do ex-prefeito Paulo Delgado, o alcaide atual não tem oposição para valer e, se a tem, é débil e muitas vezes fraca, chegando a claudicar de vez em quando. O atual secretariado sabe disso e muito bem.

Então, claro está que o chefe do Executivo não deve botar a culpa na imprensa a torto e a direito para justificar seus lapsos administrativos ou até mesmo governamentais. É preciso corrigir todos nós juntos e misturados os erros e percalços do passado e do presente sem vacilar. Ao vestir as sandálias da humildade, os governantes (inclusive federais) dão mostras de estadistas.

Não adianta governar com punhos de ferro (ou de aço), pois o povo não respeita porque gosta, obedece porque tem medo. A Venezuela e a maioria das nações que se transformaram em ditaduras são um bom exemplo disso. São elas que nos ensinam que não se pode confundir autoridade com autoritarismo, liberdade com liberalidade e outros valores que se foram perdendo no tempo e que só a imprensa é que conseguirá resgatar.